Inspire, expire e siga com a vida: a importância do reconhecimento de nossas emoções e sentimentos
“Se a vida te convida pra dançar num ritmo descontrolado, injusto, respire fundo.
Sinta o gosto do muito ou do pouco, se entrega, pode ir sem pressa.
Viver é mesmo assim com o tempo tudo se acerta*”.
A citação acima é o trecho de uma linda canção que conheci recentemente e cuja mensagem me tocou profundamente, além da deliciosa melodia apresentada aos meus ouvidos. O próprio título da canção nos oferece uma dica valiosa: diante do “descontrole” da vida “respire fundo”.
Do ponto de vista fisiológico, inúmeras perspectivas pontuam os benefícios da respiração para nossa saúde física e mental. Contudo, na canção, o “respirar” adquire também um sentido metafórico e, podemos até afirmar, psicológico. Diante das intempéries da vida, não basta apenas respirar, mas “respirar fundo”, com fôlego total. Respirar, no sentido aqui proposto, implica em acalmar-se, entrar em contato com os próprios sentimentos e aceitá-los como estrutura afetiva da consciência, que nos permite reconhecê-los e dizer: estou com raiva, tenho medo, entre outros sentimentos.
A vivência das emoções passa pela atribuição de sentido ao que nos ocorre, a partir do modo como nos relacionamos afetivamente com um determinado acontecimento. É por meio de uma consciência reflexiva que podemos compreender nossos sentimentos e pensamentos. Os sentidos positivos e negativos para os acontecimentos da vida são produzidos nas situações que vivenciamos plenamente, na união entre a razão e a emoção.
Sendo assim, não podemos ser gélidos em relação aos nossos sentimentos, o fato de sermos seres racionais não exclui as emoções de nossa consciência, elas são importantes para nossa constituição subjetiva. Como diz a canção “sinta o gosto, do muito ou do pouco, se entrega, pode ir sem pressa”, pois “com o tempo tudo acerta”. Cada sentimento, aos poucos, vai se encaixando em nossa vida, adquirindo determinada importância e sentido, produzindo transformações, ora mais intensas, ora mais brandas.
Ser equilibrado não significa deixar em segundo plano as nossas emoções, mas entender que elas estão presentes em todos os nossos atos e são a força motriz para nosso desenvolvimento enquanto seres humanos. Podemos até colocá-las “debaixo do tapete”, mas elas ainda estarão presentes, mesmo que escondidas. Por que, então, não se permitir sentir, com todos nossos sentidos, respirando profundamente, deixando, metaforicamente, o ar puro oxigenar nossos sentimentos e pensamentos, trazendo a serenidade e força que necessitamos para seguir com a vida? Então, inspire, expire e siga com a vida, ainda temos muito a sentir!
*Música “Respire Fundo” – Composição: Gabi Luthai/Gabriel Rocha/Sabrina Lopes/ William Santos.
Wallisten Garcia, psicólogo, mestre em Psicologia e Doutor em Educação pela UFPR, especialista em Terapia Familiar, e professor da Estácio Curitiba