Cannabis medicinal é promessa de tratamento para doenças em animais

 Barbara Arranz é biomédica, especialista no uso de cannabis medicinal e CEO da Linha Canabica

Com o avanço das pesquisas, o uso da maconha medicinal em seres humanos tem se mostrado cada vez mais positivo, com resultados importantes alcançados diante de diversas doenças. Mas se a cannabis possui propriedades que ajudam a combater males como dores crônicas e epilepsia, será que não pode auxiliar no controle dessas e de outras condições nos pets? De acordo com estudos prévios, tudo indica que sim.

Embora o número de experimentos ainda seja escasso, temos referências animadoras nessa área. A começar pela própria epilepsia, a doença neurológica mais comum entre cães, atingindo cerca de 5% dos animais dessa espécie. Estima-se que de 20 a 30% dos cachorros com o problema não respondem bem ao tratamentos disponíveis. Além disso, medicamentos veterinários hoje utilizados nessas circunstâncias podem gerar efeitos colaterais que deixam os bichos mais fragilizados.

Um estudo em andamento nos Estados Unidos, com previsão de ser concluído ainda em 2021, procura mostrar como a cannabis ajuda no enfrentamento da doença. A pesquisa, denominada “Eficácia do canabidiol para o tratamento da epilepsia canina”, quer encontrar um medicamento à base de cannabis que funcione na grande maioria dos casos e não resulte em reações adversas significativas.

Após uma avaliação completa das crises nos cães participantes, incluindo exames de sangue e ressonância magnética cerebral, um grupo de animais recebeu óleo de cannabis, enquanto outro recebeu medicamentos convencionais para epilepsia e a um terceiro foi administrado placebo. Quando concluído, esse será o primeiro grande experimento sobre o tema, trazendo respostas mais claras e científicas sobre o poder da maconha medicinal nos animais.

Mesmo antes da validação das pesquisas, a Nordic Oil, produtora de óleo de canabidiol, acredita no poder medicinal da maconha e em sua capacidade de levar aos animais benefícios similares aos que proporciona ao ser humano. Por isso, fez uma parceria com o abrigo de cães Paradise of Dogs, na Hungria. O objetivo era doar óleo de cannabis para que Nicole, proprietária do local, pudesse usá-lo em cães com diversos problemas de saúde que chegavam ao local.

O produto foi aplicado diretamente na boca dos animais ou diluído na água deles. De acordo com a proprietária do abrigo, os resultados foram impressionantes, e os cães estão conseguindo controlar melhor epilepsia, artrose, infestação por ácaros e até ansiedade.

Pesquisadores descobriram que o sistema endocanabinoide, presente no cérebro e em outras partes do corpo humano, também é encontrado em outros mamíferos. Seus receptores reagem aos canabinoides, principais componentes da maconha, ajudando a lidar com uma série de doenças, como epilepsia, dores crônicas, Parkinson e insônia.

Embora ambas espécies possuam o sistema endocanabinoide, a maneira de usar o óleo de cannabis é diferente em cada caso. Existe um protocolo para introdução do óleo de cannabis em animais chamado Low Dose. De acordo com ele, é prudente começar a introduzir a cannabis nos animais a partir de uma dosagem bem baixa, para ir acostumando seu organismo aos poucos. Esse período de introdução deve durar entre cinco e dez dias, podendo se estender caso o veterinário perceba que há necessidade de um tempo maior.

É muito importante que tanto o veterinário treinado quanto o dono do animal prestem atenção no comportamento do pet, mesmo nessa fase de introdução do óleo. Assim como acontece com seres humanos, a dosagem de cannabis pode ser aumentada ou diminuída a depender das reações do organismo do animal.

A cannabis é uma planta que possui baixa toxicidade. Reações adversas em animais são raras e geralmente estão associadas a casos de superdosagem ou ingestão da versão in natura. Nesse sentido, cabe ressaltar que não se deve jamais oferecer a planta para os pets, uma vez que a maconha tem também THC, substância psicoativa. Aliás, o uso da cannabis medicinal, seja nas pesquisas, seja na vida real, precisa contar com o acompanhamento de veterinários especializados.

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