Em três décadas, a sobrevida de crianças diagnosticadas com câncer aumentou 300%
Nas últimas três décadas, as chances de cura e a expectativa de vida de crianças e adolescentes com câncer aumentou significativamente graças às novas abordagens de diagnóstico e tratamento contra o câncer. Um estudo publicado no periódico JAMA Oncology, em janeiro de 2020, aponta que mais de 80% das crianças e adolescentes diagnosticados com câncer sobrevivem.
Durante as três décadas pesquisadas (1970, 1980 e 1990) houve um aumento na sobrevida dos pacientes tratados apenas com quimioterapia (de 18% na década de 70 para 54% na década de 90). A expectativa de vida era de 48,5 anos para pacientes que receberam um diagnóstico durante a década de 1970; 53,7 anos para pacientes que receberam um diagnóstico durante a década de 1980; e 57,1 anos para pacientes que receberam um diagnóstico durante a década de 90. Esse aumento na taxa de sobrevida varia conforme o tipo de câncer diagnosticado e ocorreu paralelamente à diminuição do uso da radioterapia.
“Reduzindo o uso da radioterapia, diminui-se a ocorrência efeitos tardios potencialmente fatais – como, por exemplo: segundo câncer, insuficiência cardíaca, fibrose pulmonar com insuficiência respiratória progressiva, dentre outros e, desta forma impactando no aumentando da expectativa de vida dos sobreviventes ”, afirma o Dr. Neviçolino Carvalho, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (SOBOPE).
É fundamental o acompanhamento médico de adolescentes, e mesmo dos adultos, que tiveram câncer durante a infância com objetivo de monitorar e diagnosticar precocemente potenciais efeitos tardios relacionados à terapia. “A periodicidade depende de cada tipo de tumor e do tipo de tratamento que o paciente recebeu. Em geral, a cada dois a três meses nos primeiros seis meses após o tratamento; a cada três meses entre 6-12 meses; a cada quatro meses de 12 a 36 meses; a cada seis meses dos 36 aos 60 meses. Após cinco anos, a média de frequência desejável é anual ou conforme o diagnóstico de efeitos tardios identificados”, explica o presidente da SOBOPE.
Sobre os especialistas que devem fazer parte da equipe de acompanhamento, o Dr. Neviçolino Carvalho afirma: “Deve envolver vários especialistas: endocrinologistas, cardiologistas, neurologistas, nefrologistas, fisioterapeutas, psicólogos (psicopedagogos), psiquiatras, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, dentistas, nutricionistas, assistentes sociais, dentre outros”.
Sobre o futuro do tratamento oncológico, o presidente da SOBOPE reforça a necessidade de novas abordagens terapêuticas com foco nos avanços em novas terapias, dentre as quais, a terapia alvo e a imunoterapia, que vêm ganhando cada vez mais importância no tratamento do câncer
“A incorporação de novas terapias eficazes e com menor potencial de efeitos tardios deve ser o foco das pesquisas em oncologia pediátrica. Não há dúvidas que quanto menos utilizarmos radioterapia, combinada ou não à quimioterapia, teremos menos efeitos tardios e, consequentemente, menos mortalidade relacionada a esses efeitos tardios”, finaliza o Dr. Neviçolino Carvalho.