Café com ódio ou borboletas no estômago
Eu amo este espaço, quero que vocês saibam, mas o fato é que flertar com o abismo nem sempre é tarefa fácil e as vezes me coloco em risco real e o abismo quase me engole.
Como vocês estão? Eu sei que estou ausente, curiosamente não é falta de assunto, é excesso. Tô cheia de interesse em tudo e aquela indignação no meu peito aparentemente foi amenizada, por pasmem, uma paixão.
Não, não tô gratiluz, tô apenas conversando com as borboletas no meu estômago que me arrumaram um passatempo: Paixão de adolescência- o retorno, e não é filme acreditem e nem adolescente tardia estou mais- mas cara de novela, bem que tem. Tenho estado bastante ocupada criando essa funfic e também com o trabalho Gloria Adeux.
Fui me deixando contaminar por amor, não sei viver pautada no ódio, embora o brasileiro informado tome café com ódio todo dia ao acordar, estar vivo e saudável em plena pandemia já me deixa minimamente feliz.
Perdemos quase meio milhão de brasileiros e temos um estúpido ignorante dando rolezinho de moto, a vacinação a passos de tartaruga e comprometimento algum do poder público – no mínimo dá pra se agradecer de joelhos pela saúde, nesse país do salve se quem puder.
Comecei falando de amor e cá estou querendo tomar mais um café com ódio. Me dá azia só de pensar.
Tenho sentido tanto, que me percebi anestesiada nessa ânsia de querer viver a vida lá fora, “só os idiotas que permanecem isolados” diz o escroto que chamam presidente, nós – os idiotas – querendo preservar a vida, evitar a morte – que é inevitável, sabemos- por isso viver é tão raro, gente que defende genocida por exemplo, tá morto por dentro faz tempo! É necropolitica que chama, indiferente do nome que os passadores de pano queiram dar.
Cansei de falar o óbvio, todo mundo tem acesso ao Google- penso dentro da minha caverna- e também esqueço que não Suellen, tem gente sem acesso a alimento, saneamento básico e dignidade. Nós, os que pensamos muito, as injustiças sociais doem mais.
Tenho refletido sobre ausência e conclui que estar ausente nem de longe significa não existir, estamos todos cheios da presença de quem não tocamos, cheiramos, abraçamos, sentimos… Destes amores que moram no nosso peito.
Estamos cheios de saudades, de memórias inventadas até sobre o que não vivemos. Entramos em modo aleatório para tentar passar essa fase e tentar salvar a princesa. A princesa nesse caso sou eu mesma.
Tenho me preservado sempre que possível. Meu corpo é meu castelo. Mas como nada está sob controle, o coração as vezes entra para jogo e quando a gente percebe, já tá aflita tentando tirá – lo de roubada.
Os meus sentidos estão dormentes, porém não adormecidos. Eu que sinto tanto, sinto muito pelo que o Brasil se tornou, fui arrancada de uma imersão em mim mesma, que durou meses, tentando ler o que meu corpo queria comunicar e comecei a ler os sinais, quando numa surpresa ele começou a se comunicar com outro corpo, mas desta vez tava cheio de alma ali. Não éramos algoritmos soltos mas nuvens da Internet, éramos histórias, éramos memórias. Agora somos algo que ainda não tem nome, mas tem amor.
Memórias de borboletas no estômago, memórias de paixão a primeira vista. Daquelas que não se precisa olhar de novo. É só fechar os olhos!
Mas lá fora tem essa realidade estúpida que nos tirou o fôlego. E nesse isolamento meia bomba de um governo brocha que afirma sua hombridade cheio de viagra, cloroquina e propina, a gente até esquece que tem alma e desalma um pouco para lidar com esse luto que parece eterno, mas não é.
Já diria Mário Quintana “Eles passarão, eu passarinho”. Enquanto isso me distraio com minhas paixões num ensaio, esperando o momento exato de voltar a amar profundamente, a vida lá fora. Nossos corpos livres e apaixonantes prontos para novas memórias. Afinal, nada como uma boa história para gente não esquecer, que apesar de exaustos, estamos vivos e no que me diz respeito, pretendo me manter assim. Resistiremos!