Mais Lockdown, Menos Empatia

Estamos Acostumados Com a Morte?

A gente acaba se acostumando com as coisas. Com todos os tipos de coisas.

Isso pode ser o que nos manteve existindo como raça humana. O que não mata engorda, conforme o ditado.

Assim, seguimos engordando. Não todos nós. Mas boa parte.

Em março de 2020 bateu aquele medo. Vai faltar comida no mercado? Posso infectar algum familiar e ser responsável pela sua morte? Vai faltar dinheiro?

Em meio a novidade pandêmica, preocupamo-nos. Bem, nem todos…

Mas isso já parece passado. Alguns morrem outros melhoram de vida.

Estamos agora em março de 2021, completando quase um ano do pepino do morcego no Brasil. Pepino? Mais de 40% da safra de soja de 2022 já está vendida, por um preço nunca atingido antes (detalhe, a safra de 2021 nem foi colhida ainda). O agronegócio bombando, a construção civil voando.

Em meio a compra de tijolos e picanha para o churrasco da nova quarentena o país morre aos poucos.

Mas essa nova vida até parece normal. Normal?

O novo normal. Novo? Não há nada de novo nem de normal aqui. A gente passar por moradores de rua famintos e muitas vezes nem notar. Isso é velho. A gente se acostuma com o caos, com a falta de cuidado, com desaforos e com a morte.

O que mais precisa acontecer para assustar os festivos. Para que ao invés de eu comprar um vinho para curtir a quarentena, que eu doe o valor respectivo para pessoas sem trabalho?

Estamos em um momento trágico. Podemos nos recolher e refletir. Ou apenas engordar. Porque afinal, o que não mata…

André Nicolau é Roteirista, Diretor Artístico e Fundador da U4M Escola de Música
@drenicolau

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