Livro do ACNUR traz receitas afetivas de refugiados
A gastronomia, além de estimular os sentidos, é também o elo afetivo com a terra natal e as memórias de vida dos refugiados. Receitas de família têm gosto e cheiro de lar. Evocando essa conexão, o ACNUR – Agência da ONU para Refugiados – lançou um e-book com sete receitas de refugiados que encontraram no Brasil uma nova oportunidade de construir um lar sem perder as raízes com seus países de origem.
O livro de receitas “Pratos do Mundo” é composto por pratos elaborados por refugiados da Colômbia, Síria e Venezuela que, além das dicas culinárias, compartilham histórias de superação em busca de reconstruir suas vidas no Brasil.
“Um prato típico de um país ou região guarda, dentro de si, anos de história, descobertas, valores e memórias afetivas. A culinária é, portanto, uma valiosa e deliciosa porta de entrada para outras culturas. Esses laços entre uma pessoa e sua terra de origem se fortalecem quando elas são separadas, especialmente quando essa separação é forçada – como é o caso dos refugiados, que precisam deixar suas casas para escapar de guerras, conflitos, violência, perseguições e salvar suas vidas”, diz José Egas, Representante do ACNUR no Brasil. “A gastronomia, além de ser um elo importante de ligação com suas culturas, é uma fonte de renda e de autonomia”, complementa.
Atualmente, no Brasil, são cerca de 50 mil pessoas em situação de refúgio e mais de 190 mil solicitações ativas junto ao Conare, órgão do governo federal responsável por conceder vistos de refugiados.
Um dos chefs do e-book é o colombiano Jair Abril Rojas, que veio para o Brasil em 2012, fugindo da violência em seu país. Aqui, foi inicialmente apoiado pela Cáritas, organização parceira do ACNUR no Brasil e, hoje é proprietário do restaurante Macondo Raízes Colombianas, que oferece aos fregueses pratos típicos da sua terra. No livro, Rojas compartilha uma receita típica dos lares colombianos. “A fraldinha cozida com milho, babata e mandioca é uma receita de família, típica de eventos especiais”, conta.
Outros participantes são o casal sírio Omar e Kenanh Suleibi, que chegaram ao Brasil em 2014, com a filha Limar que, inclusive, nomeia o empreendimento. O idioma foi o principal empecilho na adaptação, mas não impediu que o casal comercializasse os doces sírios pelas ruas de São Paulo. Na receita compartilhada, a lembrança da casa da avó. “Preparar o alimento fortalece os laços com nosso país e ajuda a manter as memórias vivas”, comenta Omar, que ensina a receita da famosa abobrinha recheada.
A chefe da Área de Parcerias com o Setor Privado do Acnur Brasil, Natasha Alexander, explica que a gastronomia é também uma oportunidade de geração de renda para os refugiados. “A culinária permite que os refugiados ganhem autonomia e possam reconstruir as suas vidas de uma maneira digna aqui no Brasil. Assim, eles contribuem com a nossa cultura e com a economia local. A gastronomia é uma maneira de a gente trabalhar o ingrediente principal desse livro que eu diria que é a empatia”.