Volta às atividades físicas depois da COVID-19
Depois de um 2020 todo adaptado por causa da pandemia da COVID-19, temos no Brasil mais de 7 milhões de recuperados da doença causada pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2). Para alguns, a retomada da rotina depois desse susto, que é contrair uma doença desconhecida e tão nova, requer cuidado e atenção. De acordo com o médico cooperado da Unimed Curitiba especialista em medicina do esporte, Marcelo Leitão, a COVID-19 não é mais encarada apenas como uma doença respiratória. “Hoje já sabemos que ela não se limita aos pulmões e tem diversas maneiras de afetar o organismo e órgãos como intestinos, rins, cérebro e coração. Por isso, há agora uma preocupação de que muitas pessoas que contraíram a COVID-19 possam ter tido algum outro tipo de comprometimento”, destaca. Diante disso, a intenção de iniciar ou retomar atividades físicas precisa inevitavelmente passar por uma avaliação médica, especialmente para checar o coração.
Estudos feitos durante a pandemia mostram que complicações cardiovasculares relacionadas a este coronavírus aparecem mesmo nos quadros mais leves e, muitas vezes, essa sequela no peito não dá sinal algum. De acordo com o especialista, a pessoa só vai sentir quando exigir mais do corpo como, por exemplo, durante uma atividade física. Tanto que a Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício do Esporte (SBMEE), em parceria com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), publicaram em novembro do ano passado um documento com orientações sobre a volta segura aos exercícios após a infecção pelo novo coronavírus.
Marcelo Leitão foi um dos médicos que ajudou a desenvolver o documento e afirma que a intenção é ajudar a minimizar qualquer problema que possa surgir. “É altamente recomendável que os recuperados voltem a fazer os exercícios, praticar qualquer esporte, mas, antes desse retorno, devem se submeter a uma avaliação médica. Isso é relativamente simples de fazer e pode minimizar o risco de a pessoa ter tido o acometimento do aparelho cardiovascular ou respiratório. Não significa ter que fazer uma série de exames complexos, o profissional vai analisar o quadro de acordo com a gravidade da infecção, fazer um exame físico no consultório e pedir alguns testes complementares caso seja necessário. O objetivo é prevenção! É apenas passar pelo seu médico de confiança, preferencialmente um especialista na área do exercício do esporte, para ter a orientação mais adequada possível”, explica.
O médico ressalta que, após estar liberado para retomar a prática de atividade física, o paciente deve ficar atento aos sinais do corpo ou ao aparecimento de algum sintoma diferente. “Se, durante ou após o exercício, você sentir muito cansaço e estiver com palpitação, falta de ar ou dor no peito, consulte um profissional de saúde novamente”. Podem ser sinais de algo errado no sistema cardiovascular. E, caso esteja tudo bem, com o ritmo das atividades evoluindo, ainda assim os especialistas das duas sociedades médicas recomendam uma reavaliação dois ou três meses após a liberação inicial. Afinal, ainda há muita coisa que não se sabe sobre o novo coronavírus e seus efeitos em longo prazo.
Retomada e escolha do exercício
Os exercícios físicos em geral são recomendáveis e importantíssimos para a manutenção do bem-estar e saúde das pessoas. Então, ao receber a liberação médica para exercitar-se, a forma segura e apropriada é ir devagar e retomar as atividades gradativamente. Segundo recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), a quantidade de exercício mínimo é entre 150 e 300 minutos para atividades aeróbicas de baixa a moderada intensidade, o que significa de duas horas e meia a cinco horas por semana. Já para as atividades aeróbicas de alta intensidade, a quantidade indicada é entre 75 a 150 minutos, o que corresponde entre uma hora e 15 minutos a duas horas e meia por semana. O médico cooperado da Unimed Curitiba esclarece que “essa intensidade pode ser modulada, alternando os dias entre exercícios mais intensos e mais suaves. Também é recomendável, segundo a OMS, fazer exercícios de musculação, uma a duas vezes por semana, para retomar o ritmo de antes da doença e a força muscular”.
E independente da modalidade escolhida, os exercícios devem ser mantidos. O especialista em medicina do esporte assegura que “não há um exercício que seja melhor que o outro. A escolha das modalidades está mais relacionada às preferências individuais, a disponibilidade de usufruir de certas estruturas que algumas atividades exigem – a natação, por exemplo, que exige piscina –, e também eventuais limitações que a pessoa possa apresentar como problemas nos joelhos, ombros, etc. Todos os aspectos devem ser levados em consideração na hora de começar a movimentar o corpo”.
Dentre as atividades aeróbicas estão natação, caminhada, corrida, ciclismo e dança. “E, neste momento, é ainda mais essencial ter a orientação de um profissional de Educação Física. Para aqueles que não foram infectados pelo vírus, a pandemia reforça a importância da atividade física, já que ajuda a manter o sistema imunológico na sua melhor condição de atividade. Mas não quer dizer que protege contra a COVID-19. Para isso, basta manter os cuidados necessários para evitar o contágio. Ou seja, a prevenção continua tanto para quem já era ativo e retoma às atividades, quanto para quem vai começar os exercícios agora. E vale inclusive para quem já teve a COVID-19, pois ainda não se sabe ao certo quanto tempo dura a imunidade”, completa o especialista em medicina do esporte, Marcelo Leitão.
Não é exagero, mantenha na rotina o uso das máscaras antes e depois dos treinos. Não converse sem máscara, mantenha a distância mínima de 2 metros dos outros praticantes. Se puder faça exercícios em casa ou em lugares abertos, com boa circulação de ar. Lave as mãos com água e sabão e desinfete todos os objetos que vá utilizar no treino com álcool em gel ou álcool 70%.
Exercícios físicos fortalecem a ação das vacinas
Apesar do exercício físico não ser vacina para nenhuma doença, o médico explica que a atividade física regular ajuda no fortalecimento do sistema imunológico e pode proporcionar uma resposta mais rápida e eficaz contra qualquer quadro de infecção. Além disso, Marcelo Leitão afirma que a prática regular de atividades físicas pode otimizar e potencializar a ação das vacinas e que estudos internacionais e nacionais avaliaram o efeito da vacinação em pessoas sedentárias e ativas, demonstrando que a produção de anticorpos em resposta aos vírus e às bactérias pode ser de duas a três vezes maior entre os que se exercitam em relação aos que não praticam atividade física.
“Com uma dose de atividade física regular, os pacientes apresentaram pistas no sangue de que há uma atuação mais intensa e efetiva do sistema de defesa, especialmente dos macrófagos, células responsáveis por combater os inimigos microscópicos. Isso acontece porque, durante a prática, ocorre a liberação de hormônios, como a adrenalina, que recrutam células imunes, as colocam em circulação e melhoram o seu funcionamento. Mas é importante ressaltar que isso não quer dizer que quem se exercita não é acometido por infecções, mas sim que o organismo está mais bem preparado para lidar com elas”, explica.
As vacinas funcionam como um estímulo ao sistema imunológico. Ao serem aplicadas, elas introduzem vírus ou bactérias inativas — que não podem causar a doença — que fazem com que o sistema imunológico conheça aqueles agentes e produza anticorpos que evitem os sintomas causados por esses microrganismos. “A vacina tem resultado comprovado na prevenção de doenças e, em alguns casos, até mesmo na sua erradicação, como foi com a poliomielite que desde o início dos anos 90 não existe no Brasil devido a essa política de prevenção. As vacinas são o único meio de evitar que todas essas doenças voltem e o Brasil tem hoje o maior programa público de imunização do mundo. Sendo assim, não desperdice isso, procure um posto médico e coloque as suas vacinas em dia e, quando chegar a sua vez, vacine-se contra o novo coronavírus também”, reforça o médico.
Além da prática regular de atividade física, outros hábitos saudáveis também contribuem para favorecer a ação das vacinas, aumentar a sua expectativa de vida e viver com mais qualidade, são, por exemplo, comer alimentos saudáveis, dormir bem e cuidar da saúde emocional.