Dores crônicas: medicina intervencionista propõe tratamento minimamente invasivo

A pandemia da Covid-19 fez com que a expressão “dor nas costas” tivesse um aumento de 97% nas pesquisas do Google em apenas dois meses. Uma pesquisa da Fiocruz que avaliou comportamentos durante a pandemia mostra que 50% das pessoas que já tinham algum problema crônico de coluna relataram aumento de dor. Uma solução pode ser a medicina intervencionista — uma área recente no campo que tem como objetivo desenvolver procedimentos minimamente invasivos para o diagnóstico e tratamento da dor crônica.

Para Bruno Miranda,  especialista em radiologia e diagnóstico por imagem e em medicina intervencionista da dor, que integra o corpo clínico do Hospital Dona Helena, de Joinville (SC), o aumento das dores crônicas, no atual contexto, está principalmente relacionado ao estresse gerado pela falta do convívio social, pelo home office, pelo momento de incerteza, etc. “Esse estresse interfere muito na dor. O paciente fica em casa com uma ergonomia muito ruim. Trabalhando numa cadeira que não é adequada para o trabalho, ou passando horas no sofá deitado. Além disso, as pessoas têm feito menos exercício físico. Isso tudo tem feito com que esses índices aumentem”, aponta.

A medicina intervencionista da dor se dedica a diagnosticar e tratar pacientes que sofrem de dor crônica ou aguda. Para isso, são utilizados recursos da radiologia intervencionista e suas técnicas minimamente invasivas (procedimentos guiados por ultrassom, raio-x ou tomografia) para entender a causa da dor e apontar a melhor terapia. “Isso permite a realização de procedimentos sem corte, com menos riscos de infecções e tempo de internação, sempre pensando no bem-estar do paciente”, frisa o especialista. “A maioria dos procedimentos são realizados a nível ambulatorial, ou seja, são realizados com apenas uma sedação leve e o paciente pode ser liberado para casa após algumas horas.”

Por meio do procedimento, são identificadas as causas e a possível via dolorosa responsável pelo estímulo. Isso permite  bloqueá-la com uso de substâncias anestésicas e anti-inflamatórias. “Muitas vezes, os pacientes são surpreendidos pela melhora súbita de uma dor que o incomodava por anos”, destaca Bruno. Alguns exemplos de casos que podem ser tratados com a medicina intervencionista da dor são as dores da coluna e cervical, de cabeça,  dores pélvicas, oncológicas, nas articulações, entre muitas outras. “Com as técnicas intervencionistas para o manejo da dor conseguimos ajudar muitas pessoas a aliviar seu sofrimento e restabelecer sua vida normal.”

 

Qual é a diferença entre dor aguda e dor crônica?

“Nos trabalhos científicos, nós consideramos a dor crônica como aquela que dura mais de três meses. Mas a dor crônica poderia ser também classificada como aquela dor que perdura há mais tempo do que o esperado, do que o necessário”, esclarece o profissional. A dor aguda tem caráter protetivo: é um alerta para algum problema que está acontecendo no corpo. Já a dor crônica não carrega mais o aspecto de proteção. “Há procedimentos para atrasar a progressão, mas não para reverter. O objetivo final é deixar o paciente com menos dor, ou sem dor,  com a melhora da qualidade de vida.”

De acordo com o especialista, nas dores crônicas o nosso organismo começa a realizar um processo denominado neuroplasticidade. “Os centros de sensibilidade do nosso cérebro começam a ficar com maior atividade. Em vez de acontecer uma adaptação para regulação, ocorre o contrário, há o aumento da dor”, explica. “Além disso, temos fatores que influem, como um sistema periférico com novas terminações nervosas, maior sensibilidade periférica e inflamação neurogênica, que é um processo inflamatório relacionado aos pequenos nervos periféricos. Isso tudo leva a manter a dor, com um aspecto mais amplo do que apenas uma dor aguda. Por isso, é necessário sempre o combate à dor aguda, realizando o seu diagnóstico e tratamento, para prevenção da dor crônica”, sublinha Bruno.

 

Prevenção: cuidados com a saúde física e mental

A dor não é somente um sintoma físico: o emocional também interfere. “É uma sensação desagradável que tem múltiplas esferas biopsicossociais. Ela é afetada pela condição emocional, pela cultura, pelas lembranças, pela experiência com uma dor passada”, conceitua o profissional, ressaltando que questões genéticas também podem causar maior  sensibilidade. “Um desconforto para um, pode ser uma dor para o outro, é importante sempre individualizar essa atenção para não desvalorizar a queixa do paciente”, frisa.

O médico aponta a importância de nos mantermos ativos, realizando caminhadas ao ar livre por exemplo, adotando as medidas de proteção à Covid-19, ou exercícios em casa, respeitando a limitação de cada um e, se possível, com auxílio profissional. A atenção também precisa estar voltada para uma alimentação saudável, evitando comidas altamente inflamatórias. “Também é preciso mantermos nossa mente em um estado positivo. Então não fique o tempo todo vendo notícias ruins e envolvido em problemas. É necessário tentar fazer coisas que nos deixem mais positivos. A gestão emocional é muito importante nessa fase que estamos passando”, conclui.

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