Felicidade enganosa pode destruir vidas
Antes do advento das mídias sociais, as grandes preocupações da sociedade estavam baseadas no “ter ao invés de ser”. Mas hoje, nesta sociedade do início da segunda década do século XXI, vive-se a era onde as pessoas desejam “parecer que tem e parecer que se é”. Esta é a constatação do teólogo, licenciado em filosofia e psicanalista Dr. Italu Colares, reitor da universidade EBWU nos Estados Unidos.
Segundo o especialista, “As redes sociais se por um lado podem ser ferramentas de informação. Elas também são vitrines onde as pessoas divulgam apenas aquilo que se quer ou se deseja divulgar. Vemos fotos felizes e alegres que nem sempre condizem com a realidade de muitas pessoas. Isso se dá um choque quando a pessoa que posta encara as suas postagens e confrontando as mesmas com a própria vida. Existe uma grandiosa diferença entre ser feliz e parecer feliz”, explica.
Mas afinal, o que é felicidade?
Segundo Dr. Italu Colares, existem várias definições para o que é felicidade, e ele destaca algumas delas: Para Tales de Mileto, “a felicidade é corpo são é forte, boa sorte e uma alma bem formada. Demócrito de Abdera dizia que felicidade é a proporção de prazer que você tem durante a vida. Uma pessoa feliz é aquela que possui mais prazer do que sofrimento durante a vida. Sócrates já entendia a felicidade como a prática da justiça e das virtudes. Já Aristóteles dizia que a felicidade era o bem mais desejado pelo homem, porém inalcançável. Jesus dizia em conformidade com o evangelista João: ‘Deixo-vos a paz; a minha paz vos dou. Não vo-la dou como o mundo a dá. Não permitais que vosso coração se preocupe, nem vos deixeis amedrontar’. Aparentemente Jesus se preocupa com a paz na vida presente mais do que com a felicidade que nos seus discursos. Para Jesus aparentemente a felicidade é mais fortemente tratada como uma coisa adquirida na vida após a morte. Kant entendia a felicidade como o cumprimento do dever”.
Além destes conceitos, o especialista apresenta outros: “Para a cabala hebraica, a felicidade seria receber do divino para compartilhar com outras pessoas buscando o Yishuv Há Olam (o assentamento do mundo que significa tornar esse mundo melhor)”.
Um dos grandes nomes da psicanálise, Sigmund Freud afirma que o homem anseia pela felicidade e que esta advém da satisfação de prazeres. “As coisas que nos fazem bem provêm da satisfação (de preferência repentina), de necessidades represadas em alto grau. Para Freud a felicidade é mais mecânica, sendo desejo e satisfação”.
Outro pensador citado por Dr. Italu Colares é Carl Gustav Jung. o pai da psicologia analítica. “Ele percebe a questão da religiosidade como uma função natural e inerente à realidade psíquica, podendo ser considerada até mesmo instintiva, um fenômeno genuíno. Sendo a religião mais propriamente uma atitude da mente do que um credo específico, onde o credo é uma forma codificada da experiência religiosa original. Diante disso a religiosidade é uma necessidade sob essa perspectiva para o alcance da felicidade”.
Além disso, Dr. Italu reforça que “estudos anteriores sugerem que a ‘pessoa feliz’ é jovem, saudável, bem educada, bem paga, otimista e extrovertida. A mesma pesquisa concluiu que as pessoas mais felizes tendem a ser religiosas, casadas, com grande autoestima e moral de trabalho, e aspirações modestas. Isso indica que o seu gênero e nível de inteligência não necessariamente vem ao caso. Tanto o dinheiro, quanto o desejo de ser querido pelas pessoas, pode até tornar a vida mais leve, mas em si não pode te garantir a felicidade”, destaca. Em muitos casos, ele alerta, “ter dinheiro pode até agravar e representar um risco a própria existência como provado na obra Suicidio de Emily Durkhein”.
Depois de tantos estudos, a conclusão
Estudioso, Dr. Italu reforça que todos esses conceitos podem dizer muito sobre a felicidade. “Mas em uma visão particular, acredito que a felicidade está intimamente ligada ao propósito do porquê você está aqui. A felicidade está ligada à sua missão”, detalha.
Segundo o filósofo e psicanalista, a felicidade vem de um contato direto com o sagrado atrelado ao seu propósito de existência pessoal. De maneira que compartilhando os contributos deste propósito, posso tornar o mundo que estamos um lugar melhor. Ser feliz não é viver isento de sofrimentos, até mesmo porque o próprio sofrimento em muitos casos faz parte da felicidade e da realização que se pode ter. Essa felicidade deve ser vivida e buscada pelo homem enquanto vive, e não apenas na rede social”, completa.