Não se pode viver com medo ou meu desejo de feliz Ano Novo
Tenho certeza de que o ano de 2020 bateu de um jeito diferente para cada um de nós, nunca li tanto sobre as doenças crônicas herdadas da família e sobre assuntos relacionados a saúde mental. Ironicamente, no começo do ano tatuei a palavra coragem, lá nos idos de janeiro- parece que se passaram 10 anos desde então- minha primeira tatuagem tem um arco e flecha escrito CORAGEM, brinco que mal sabia que era uma premonição.
Costumo dizer que coragem não é uma escolha, é aquela máxima “Quando não se tem tantas opções, vai com medo mesmo”. Agarrada nesta linha de raciocínio e pelas escolhas que fiz no decorrer da vida, entre os familiares e amigos, me rendeu o adjetivo de “Corajosa” – Mal sabiam eles, que silenciosamente eu alimentava um monstro chamado ansiedade, que resolveu ter vida própria lá no início da QuarenteRna.
Foram tantas as maneiras de experimentar o medo. Ele é uma emoção fundamental, por ele flertamos com o abismo- mas não nos jogamos- e não podemos ignorar que ele se apresenta de forma voluntariosa, chega roubando espaço. O medo nos diz que há perigo, as vezes o perigo é real, outras não. Qual é o seu medo?
Quando o medo te paralisa, se torna um problema! O medo pode vir em forma de apreensão, preocupação, ansiedade, angústia, ele não deixa de ser medo quando muda de nome. Nas leituras da vida, li que ansiedade é viver no futuro e apesar de fazer sentido para mim, me parece medo de não estar presente no futuro.
Quando seu corpo te coloca em estado de luta ou fuga, o mais sensato a fazer é tentar um diálogo entre o mental e o físico, propor um diálogo. Mas o medo em um estado avançado vem acompanhado de taquicardia, tremedeira, náuseas, entre outras questões, falta de ar, em ano pandêmico, são poucas as sensações mais temidas: “É coisa da sua cabeça!” O senso comum diria: Concordo e veja, a cabeça faz parte do corpo e não se pode ignorar um monstro que se alimenta das nossas angústias.
Mas porque falar do medo? Tão baixo astral, cadê a mensagem positiva de final de ano? Porque enquanto eu relembro todas as vezes que o medo me travou, até ser diagnosticada com transtorno de ansiedade, a hiper vigilância me consumiu por horas e horas tentando entender os mecanismos do meu corpo e, contudo, me fez perceber o que de fato é importante.
Realmente, a pandemia trouxe muito aprendizado, embora eu deteste essa obrigação de tirar aprendizado de tudo, inclusive de tragédias que nos tiraram tantas vidas e paz, um luto silencioso provocado pelo descaso do Estado e a normalização da morte, já nos habituamos com a violência, o racismo, a misoginia, e me desculpem, não dá para ser Good Vibes somente, sem ser alienado e egoísta, não é a minha, mas como diriam os memes: Não dá para tratar como vacina quem te trata como cloroquina! Varrer a sujeira para debaixo do tapete não ajuda a resolver nada, nunca!
Foram tantos os ensinamentos, começando por não aglomerar com gente que trata pandemia como gripezinha, se possível, evitar qualquer interação com quem não acredita na ciência. Foi um ano que entendi na prática que não temos garantia de nada. O controle não existe, é uma ilusão!
Cuidar na nossa saúde mental vai nos fazer passar em paz pelos maiores problemas das nossas vidas e dificilmente vai ser a situação que tememos, que autocuidado não deveria nunca estar atrelado a banho de creme no cabelo ou procedimentos estéticos, auto estima está muito mais conectada as ações as quais você tem orgulho do que qualquer discurso vazio de repetição- exceto se forem exercícios físicos: Ioga, luta, se alongar, fortalecer o corpo é cuidar da sua casa e dela você vai precisar enquanto estiver por aqui. O seu reflexo no espelho é resultado de uma junção de coisas e posso garantir que não estão apenas relacionados a beleza, o que importa mesmo é do que você se alimenta? E não to falando de comida…
Ser positivo é importante, é fundamental, sou uma otimista incorrigível, mas percebo que foi o senso de realidade que manteve o nosso pé no chão e nos fez passar álcool em gel e usar máscara o ano inteiro desde o fatídico março de 2020.
Por mais seres sociais que somos, como diria Clara Averbuck: “A carência é mãe da roubada” e viver bem consigo mesmo pode ser um ponto de partida para descobrir um universo, essa pessoa única que é você, não existe outra pessoa que precise mais do seu amor e do seu cuidado. Se teu corpo é tua casa, por que deixar qualquer um te visitar?
Ouvi no podcast P.R.I.M.A.S da Renata Correa e da Carla Lemos que estamos vivendo um trauma coletivo e a cura precisa ser coletiva, para isso, mascara primeiro em si mesmo, como diriam nos aviões, então eu desejo que você se acolha e seja bom consigo, ninguém mais vai ser- Conselho que ouvi da minha amiga Mari e nunca vou esquecer.
“Feito é melhor que perfeito” porque no fim, viver é agora, viver é urgente, nós não somos para sempre, nada é para sempre, nem a dor, nem o amor ou o medo, mas a coragem, ela sim precisa ser tirada de algum lugar aí dentro, é ela quem vai te tirar da cama em momentos de solidão e medo, é ela quem vai fazer você lutar pelo que acredita.
Então, meu desejo de ano novo é Coragem, não aquela que sai loucamente se achando invencível e te coloca em riscos desnecessários, isso é irresponsabilidade, a coragem que eu te desejo é aquela que apesar de viver um dia de cada vez, encha seu coração de esperança para lutar por dias melhores, por você e pelo mundo, porque por mais distantes que este ano nos obrigou a ficar, foi quando mais entendemos que não estamos sozinhos e qualquer mudança só vem através da coletividade e quanto a mim, não vejo a hora da gente se aglomerar por aí novamente.
Desejo a calmaria depois da tempestade, um ano novo corajoso e cheio de saúde e amor, desejo que você se orgulhe do que tem deixado pro mundo e fica aqui minha curiosidade, se o seu mundo acabasse amanhã, você estaria feliz com as escolhas até aqui?