Oyá e os Ventos da Mudança: Orixá Regente de 2026 e os Desafios do Ano
Em 2026, a força feminina ganha destaque sob a regência de Oyá, trazendo transformações profundas, confrontos inevitáveis e a necessidade de coragem para enfrentar os ventos da mudança.
No dia 27 de dezembro, no Instituto Cultural Omiô de Tradições Africanas, realizei a leitura oracular através dos Búzios que revelou os caminhos espirituais do ano de 2026. Ao contrário de previsões que apontaram Ogum como orixá regente do ano, o que se revelou no meu jogo foi algo mais complexo, profundo e simbólico: Oyá, conhecida como Iansã, se apresenta à frente, abrindo os caminhos, mas caminhando nos trilhos de Ogum. Oyá soprará o vento da mudança; Ogum sustentará o caminho por onde esse vento passar.
O Odù que nasceu no meu jogo foi Odi Méjì, um caminho que fala de cortes necessários, encerramentos de ciclos, confrontos inevitáveis e amadurecimento forçado. Nada em Odi acontece pela metade.
Oyá rege os ventos, os espíritos ancestrais, os movimentos bruscos e as viradas que não pedem licença. Sua presença à frente indica que 2026 será um ano em que a força feminina ganha ainda mais visibilidade, especialmente no campo da justiça, da denúncia e da reparação.
Veremos mulheres se organizando, se reunindo, se posicionando com firmeza para exigir respostas diante da violência, da opressão e do silenciamento. Esse movimento já começou, mas tende a se intensificar. Oyá não varre o que está fora do lugar: ela expõe o que está escondido, revela, derruba e obriga a sociedade a olhar o que está por trás dos panos.
Será também um ano em que muitas mulheres precisarão assumir as rédeas de seus próprios caminhos, tomando decisões difíceis, rompendo vínculos adoecidos e deixando para trás estruturas que já não sustentam suas vidas.
Odi Méjì é uma caída no jogo de búzios que fala de perdas possíveis, especialmente no plano espiritual e energético. Isso não significa fatalidade, mas alerta: a energia do coletivo pode oscilar, exigindo mais cuidado com o corpo, a mente e o espírito. O ideal é andar na linha para não ser pego distraído.
É um ano que pede resiliência, autocuidado consciente e práticas que sustentem vitalidade. Quem negligenciar sua saúde emocional e espiritual pode sentir mais fortemente o peso do ano.
Odi também fala de confrontos que se intensificam. Tensões mal resolvidas tendem a explodir. Situações adiadas retornam com força. Nada escondido permanece oculto por muito tempo.
Excesso, vícios e o risco das fugas
2026 exige atenção redobrada aos excessos em todos os ângulos. Odi Méjì alerta para o risco de descontar frustrações em vícios, jogos, compulsões e comportamentos autodestrutivos.
Não será um ano para fugir da realidade, mas para encará-la com dignidade. Será necessário manter a estabilidade emocional em meio a cenários difíceis. Quem não sustentar o próprio eixo pode se perder facilmente.
Política, quedas e revelações
No campo político e social, o ano segue intenso e turbulento. Odi Méjì fala de prisões, quedas públicas, escândalos revelados e verdades vindo à tona depois de muito tempo ocultas.
Muitos que se sustentaram em estruturas frágeis ou corruptas verão seus castelos ruírem. Oyá sopra o vento que levanta os panos. Ogum corta o que precisa ser cortado.
Coragem para quem será visto
Paradoxalmente, este também é um ano de grande destaque para algumas pessoas. Reconhecimento, visibilidade e ascensão são possíveis, mas somente para quem tiver coragem.
Odi Méjì não entrega nada a quem teme o próprio crescimento e quem se mostra indisponível. Você precisará estar disposto a ajudar o coletivo se quiser receber esse reconhecimento e crescimento esperado. As bênçãos exigirão postura, preparo emocional e responsabilidade com aquilo que se recebe.
Saúde emocional: um ponto-chave do ano
Para quem já enfrenta ansiedade, instabilidade emocional ou fragilidade espiritual, 2026 pede proteção máxima. Com recursos psicológicos e espirituais bem estruturados, será possível superar medos antigos. Sem cuidado, porém, esses medos podem ganhar força e dominar. Não será um ano neutro. Ele amplifica aquilo que já está dentro de cada um.
2026 não será um ano de acomodação. Será um ano de travessia. E Oyá sopra apenas para quem tem coragem de caminhar.
Por Vitor Friary
Doutorando em Estudos Africanos, mestre em Psicologia, autor de livros publicados no Brasil e nos Estados Unidos, sacerdote das religiões de matriz africana, Babalawo no culto de Orunmilá, Hungbono no culto Jeje Savalú, iniciado nos cultos sagrados dos Voduns há 10 anos, dirige o Instituto Cultural Omiô de Tradições Africanas
Artigo de opinião



