Novas abordagens terapêuticas para a depressão: além do controle dos sintomas
Como a neurociência e a integração emocional podem transformar o tratamento da depressão
A depressão permanece como um dos maiores desafios de saúde pública, com estimativas indicando que uma parcela significativa da população enfrentará ao menos um episódio depressivo ao longo da vida. Em escala global, milhões convivem com o transtorno, o que reforça a necessidade urgente de soluções que promovam transformação profunda, e não apenas a interrupção temporária dos sintomas.
As abordagens tradicionais oferecem benefícios importantes, porém muitas pessoas relatam o retorno dos padrões emocionais que sustentam o quadro depressivo. Nesse contexto, o psiquiatra e neurocientista Dr. Diogo Lara propõe um olhar clínico inovador, que considera conteúdos armazenados não apenas no cérebro, mas também no corpo. Segundo ele, o sofrimento depressivo está ligado a experiências emocionais não integradas que continuam operando em níveis profundos da mente e do organismo.
“O corpo registra aquilo que a mente tenta suprimir, a depressão resulta do sofrimento acumulado e emoções suprimidas”, destaca Dr. Diogo Lara.
Com ampla atuação clínica e pesquisa em emoções e circuitos neurais, Dr. Lara explica que experiências evitadas permanecem acessíveis nas redes neurais do cérebro, mantendo padrões internos que perpetuam o sofrimento. A partir desse entendimento, ele desenvolveu duas propostas terapêuticas: a Abordagem Integrada da Mente (AIM), que foca na identificação e reorganização das histórias internas, e o método INSIDELIC, que facilita o acesso estruturado a conteúdos emocionais que influenciam as reações atuais.
Para o especialista, intervenções que se limitam a tratar apenas as manifestações recentes da depressão não modificam o elemento central que mantém o ciclo do sofrimento. “Os sintomas surgem a partir de registros antigos que seguem ativos no cérebro. Se apenas modificarmos o que se apresenta hoje, o alívio é parcial e ocorre sem transformação do padrão”, explica.
As metodologias AIM e INSIDELIC possibilitam o contato com sensações, memórias e circuitos neurais que sustentam respostas emocionais recorrentes. O processo envolve o corpo, a emoção e a reorganização das conexões internas. Ao permitir que conteúdos antigos completem seu percurso natural, o cérebro reduz a ativação relacionada a retração, culpa e queda de energia vital.
Os efeitos observados em atendimentos clínicos e retiros terapêuticos incluem a redução dos sintomas depressivos, a retomada da energia vital e a revisão das narrativas internas que orientam decisões e vínculos interpessoais. “A mudança ocorre quando as emoções são processadas e liberadas, deixando de comandar o funcionamento interno”, afirma Dr. Lara.
Essa visão interpreta o quadro depressivo como um sinal para a atualização de conteúdos emocionais que permaneceram ativos e não resolvidos ao longo do tempo. A proposta reúne saberes da clínica, da neurociência e de processos de reestruturação emocional que favorecem uma evolução contínua e profunda. Para muitos pacientes, esse percurso representa a primeira experiência real de modificação após tentativas anteriores com resultados limitados.
“Quando acessamos a origem emocional do sofrimento, surgem escolhas e movimentos antes indisponíveis”, conclui o especialista.
Essa nova fronteira no tratamento da depressão aponta para um cuidado em saúde mental que vai além do controle dos sintomas, buscando a integração das memórias e emoções para promover uma transformação duradoura e verdadeira.
Por Dr. Diogo Lara
Médico psiquiatra, PhD em Neurociências pela UFRGS, ex-professor titular e pesquisador da PUCRS, autor de livros, criador das abordagens AIM e INSIDELIC, integrante do grupo dos 1% de cientistas mais citados em sua área
Artigo de opinião



