Gestão eficiente é essencial para enfrentar o boom da estética orofacial no fim do ano
Com crescimento acelerado e pico de demanda em dezembro, clínicas precisam reorganizar protocolos, agenda e estoque para garantir segurança e qualidade
O mercado de estética orofacial vive um dos seus períodos mais expansivos no Brasil, com projeção de crescimento anual acima de 15% até 2026, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Médica, Odontológica e Hospitalar (ABIMO).
O aumento fica ainda mais evidente em dezembro, mês em que bioestimuladores, toxina botulínica e contorno facial lideram a procura entre pacientes que antecipam procedimentos estéticos antes das festas e das férias. O movimento intensifica a rotina das clínicas e exige planejamento mais rigoroso para evitar superlotação, falhas de indicação e queda na qualidade assistencial.
Para Sabrina Balkanyi, dentista formada pela USP, empresária e mentora de gestão clínica, o desafio não está apenas em atender mais pessoas, mas em garantir previsibilidade e segurança em um período de alta pressão. “A harmonização facial cresce, mas o consultório que não padroniza protocolos vive apagando incêndios, não construindo reputação. Dezembro separa quem trabalha com organização e quem depende de improviso”, afirma. Além de trazer uma falsa sensação de alto faturamento para quem não se atenta a precificação de seus protocolos e, muitas vezes, perde dinheiro ou nem ganha.
O comportamento do mercado indica que a alta demanda altera o fluxo operacional de clínicas de pequeno e médio porte. A ausência de triagem estruturada aumenta o risco de indicações inadequadas, enquanto a falta de controle de estoque impacta diretamente a realização dos procedimentos. Já a agenda desorganizada pode gerar acúmulo de pacientes, atrasos e desgaste entre profissionais e equipe de apoio.
A etapa de triagem torna-se decisiva no fim do ano, quando o tempo entre avaliação e execução tende a encurtar. Para Sabrina, a checagem detalhada de histórico médico, hábitos, expectativas e contraindicações reduz a incidência de retrabalho e garante previsibilidade clínica. “A pressa do paciente não pode ditar o protocolo. Uma avaliação incompleta gera complicações evitáveis, principalmente quando há excesso de marcações”, explica. “E procedimentos executados muitos próximos às grandes festas (Natal e Ano Novo), se, porventura, ocorrer intercorrências, pode acabar com as festas de final de ano tanto do paciente como do profissional.”
O aumento da procura exige ajustes na distribuição de horários, ampliação de intervalos para procedimentos de maior complexidade e criação de contingências para encaixes e emergências. Clínicas que não revisam sua capacidade produtiva tendem a viver gargalos operacionais. “O que compromete dezembro não é a quantidade de pacientes, mas a ausência de lógica na agenda. Quando todos querem datas próximas, é o planejamento que impede o caos”, diz a especialista.
Com a alta rotatividade de toxina botulínica, preenchedores e bioestimuladores, o controle de estoque passa a ser elemento central de gestão. Falhas nesse processo provocam cancelamentos e reduzem a credibilidade da clínica. Segundo Sabrina, a previsibilidade depende de reconciliação semanal e análise histórica de consumo. “Estoque não é despesa, é indicador estratégico. Sem controle, a clínica perde eficiência em seu período mais lucrativo”, destaca.
A padronização de etapas, desde a anamnese até o pós-procedimento, reduz variáveis e garante uniformidade na entrega de resultados. Em um cenário de sobrecarga, a falta de protocolos aumenta a probabilidade de intercorrências. “Quando cada profissional atua de um jeito, a operação se desorganiza. O paciente percebe a falta de consistência e a equipe perde clareza sobre prioridades”, afirma Sabrina.
As principais intercorrências registradas no fim do ano estão associadas ao acúmulo de atendimentos em curto espaço de tempo, o que compromete análise individualizada e aumenta riscos de edema prolongado, assimetria e reações inflamatórias. A especialista reforça que o controle de agenda é barreira essencial para reduzir erros. “A clínica precisa ter coragem de dizer não. Excesso de procedimentos compromete a saúde do paciente e a reputação do consultório.”
A recomendação de Sabrina é que clínicas iniciem o planejamento para dezembro já no início do segundo semestre, com revisão de protocolos internos, capacitação da equipe, definição de metas realistas e mapeamento de gargalos organizacionais. Para ela, gestão sólida também protege o relacionamento com o paciente. “Quando o consultório entrega segurança em um período de alta pressão, isso fortalece a confiança e cria fidelização. Afinal, uma clínica de sucesso vive de pacientes que voltam, indicam e dão lucro. Gestão é, acima de tudo, construção de reputação.”
Por Sabrina Balkanyi
Dentista formada em odontologia pela USP-SP, empresária, mentora de dentistas e profissionais de saúde, com mais de 20 anos de experiência, atua na gestão de unidades odontológicas e desenvolvimento de produtos digitais para profissionais da área.
Artigo de opinião



