Exaustão emocional em dezembro: o impacto do esgotamento mental no fim do ano

Pressões profissionais e sociais intensificam ansiedade e afastamentos, revelando a urgência de cuidar da saúde mental no encerramento do ciclo anual

O cansaço emocional que se intensifica em dezembro não é casual nem restrito à percepção individual. Ele reflete um esgotamento acumulado ao longo do ano, que encontra no fim do calendário corporativo um ponto crítico. Metas a cumprir, balanços de desempenho, prazos encurtados e decisões estratégicas convivem com cobranças pessoais e sociais, criando um ambiente de alta sobrecarga psíquica.

Dados do Ministério da Previdência Social indicam que, em 2024, mais de 440 mil trabalhadores brasileiros foram afastados por transtornos mentais e comportamentais, número que representa mais que o dobro dos registros de dez anos atrás. Os transtornos de ansiedade lideram os afastamentos, seguidos por episódios depressivos. Especialistas apontam que o último trimestre do ano concentra parte significativa desse agravamento.

De acordo com Danilo Suassuna, doutor em Psicologia e diretor do Instituto Suassuna, dezembro funciona como um amplificador do desgaste emocional vivido ao longo do ano. “O fim do ano reúne dois movimentos simultâneos: o fechamento de ciclos e a pressão por resultados finais. As pessoas revisitam frustrações, metas não cumpridas e expectativas irreais, ao mesmo tempo em que lidam com demandas intensificadas no trabalho”, afirma.

No mundo do trabalho, o período costuma ser marcado por aceleração de entregas, avaliações de desempenho, negociações de orçamento e planejamento para o ano seguinte. Relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que depressão e ansiedade gerem perdas globais de cerca de US$ 1 trilhão por ano em produtividade, sobretudo por absenteísmo e afastamentos prolongados.

Para Danilo, o problema não está apenas na carga de tarefas, mas na forma como o trabalho vem sendo organizado. “Há uma normalização da sobrecarga. Jornadas estendidas, dificuldade de desconexão e adiamento sistemático do descanso criam um estado de alerta contínuo. Em dezembro, o organismo já não consegue sustentar esse ritmo”, explica.

Levantamento do relatório State of the Global Workplace, da Gallup, mostra que 44% dos trabalhadores no mundo relatam níveis elevados de estresse diário, índice que se mantém em patamar historicamente alto. No Brasil, pesquisas recentes apontam crescimento consistente de sintomas associados ao burnout, especialmente entre profissionais de áreas administrativas, saúde e serviços.

Além do trabalho, entram em cena as exigências sociais do fim de ano: confraternizações, viagens, consumo, reuniões familiares e a expectativa de encerramento positivo do ciclo. “Existe uma narrativa de que o ano precisa terminar bem, com sensação de conquista e felicidade. Quando isso não acontece, o sentimento de inadequação e fracasso pessoal se intensifica”, diz.

Segundo o psicólogo, esse conjunto de fatores ajuda a explicar por que sintomas como irritabilidade, insônia, dificuldade de concentração e apatia se tornam mais frequentes em dezembro. “Não se trata apenas de cansaço físico, mas de exaustão emocional, que pode evoluir para quadros mais graves se ignorada”, alerta.

Para especialistas, o período deveria ser encarado como estratégico para ações preventivas. A OMS estima que cada dólar investido em programas de promoção da saúde mental gera retorno de até quatro dólares, por meio da redução de afastamentos e aumento de produtividade.

“No âmbito das empresas, respeitar férias, flexibilizar jornadas e reduzir a cultura da urgência permanente são medidas essenciais”, afirma Suassuna. Do ponto de vista individual, ele recomenda estabelecer limites claros entre trabalho e descanso, reduzir agendas excessivamente cheias e buscar apoio profissional ao perceber sinais persistentes de sofrimento psíquico.

“O encerramento do ano não deveria ser sinônimo de colapso emocional. Cuidar da saúde mental nesse período é uma forma de atravessar o fim do ciclo com mais equilíbrio e iniciar o próximo ano em melhores condições”, conclui.

O aumento da exaustão emocional em dezembro reforça um debate que deve ganhar ainda mais relevância em 2026: a saúde mental como tema central para a sustentabilidade do trabalho, da produtividade e da vida social.

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Por Danilo Suassuna

Psicólogo, doutor em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás), diretor do Instituto Suassuna, presidente do Instituto Brasil Central de Educação e Saúde (IBCES), autor de mais de oito livros, diretor da Editora Suassuna, coordenador da SUA Rádio

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