Imigração como Estratégia: A Nova Perspectiva dos Brasileiros sobre o Futuro
A decisão de emigrar deixa de ser um impulso emocional e se torna um planejamento racional diante da instabilidade no Brasil
O desejo de viver fora do Brasil deixou de ocupar o campo da especulação emocional e passou a integrar decisões estruturadas de vida. Dados recentes do Observatório Febraban mostram que quatro em cada dez brasileiros consideram a possibilidade de emigrar, um indicador que revela mais do que insatisfação pontual: aponta para uma reavaliação coletiva de expectativas, estabilidade e horizonte de futuro.
Esse movimento não ocorre de forma aleatória. Entre aqueles que avaliam a saída do país, os Estados Unidos surgem como destino preferencial, à frente de regiões historicamente buscadas como Europa e Canadá. A escolha sinaliza uma leitura pragmática do cenário internacional, em que fatores institucionais, econômicos e jurídicos ganham peso crescente.
A inclinação para emigrar é ainda mais acentuada entre os mais jovens. Metade dos brasileiros da Geração Y afirma considerar a mudança para outro país. Entre integrantes da Geração Z, o percentual também é elevado. O dado sugere que a decisão não está ligada apenas a crises conjunturais, mas à percepção de que o Brasil oferece poucas garantias de previsibilidade no médio e longo prazo.
O jovem brasileiro não está mais apenas insatisfeito; ele está calculando riscos e oportunidades. A imigração entra como um projeto racional, não como fuga emocional.
Mesmo com regras migratórias rígidas e fiscalização intensa, os Estados Unidos continuam exercendo forte atração. A combinação entre economia robusta, diversidade de caminhos legais e uma cultura que valoriza desempenho individual sustenta essa posição de liderança.
O país permanece no imaginário coletivo como um ambiente onde esforço, qualificação e planejamento tendem a produzir retorno. Isso pesa mais do que dificuldades burocráticas.
O crescimento do interesse, no entanto, vem acompanhado de um problema recorrente: a subestimação da complexidade do sistema migratório americano. Muitos brasileiros ainda acreditam em soluções improvisadas ou atalhos informais, o que frequentemente resulta em ilegalidade ou frustração.
Há uma distância perigosa entre o desejo de emigrar e o entendimento real das exigências legais. Sem planejamento jurídico adequado, o projeto pode se transformar em vulnerabilidade.
Após os Estados Unidos, surgem como alternativas países do Canadá, da Europa Ocidental e algumas nações asiáticas. A diversificação dos destinos indica um critério mais sofisticado por parte dos brasileiros, que passam a avaliar qualidade de vida, segurança jurídica e funcionamento institucional, e não apenas renda potencial.
O fator econômico, isoladamente, já não explica as escolhas migratórias. O que está em jogo é a possibilidade de reorganizar o futuro em ambientes percebidos como mais estáveis.
A leitura dos dados aponta para um deslocamento simbólico relevante. O Brasil deixa de ser visto, por parte expressiva da população, como um país de oportunidades ascendentes e passa a ocupar o lugar da incerteza. A imigração surge, assim, como estratégia de reorganização de vida, e não como rejeição identitária.
Esse fenômeno exige respostas institucionais e jurídicas, não apenas discursos políticos. Enquanto isso não ocorre, os Estados Unidos seguem como principal horizonte externo para milhões de brasileiros.
Por Vinícius Bicalho
Advogado licenciado nos EUA, Brasil e Portugal; Sócio fundador da Bicalho Legal Consulting P.A.; Mestre em direito nos EUA pela University of Southern California; Mestre em direito no Brasil pela Faculdade de Direito Milton Campos (MG); Membro da AILA – American Immigration Lawyers Association; Responsável pelo Guia de Imigração da AMCHAM; Professor de Pós-graduação em direito migratório; Único advogado brasileiro citado na lista de “profissionais confiáveis" dos principais jornais americanos (The New York Times, The Wall Street Journal, The Washington Post, USA Today e The Los Angeles Times).
Artigo de opinião



