Menopausa no trabalho: o desafio das empresas brasileiras em reter talentos femininos maduros

Como a falta de políticas de apoio à menopausa impacta a saúde, a produtividade e a carreira das mulheres no mercado corporativo brasileiro

No Brasil, a falta de políticas corporativas específicas para apoiar mulheres que passam pela menopausa ainda é uma realidade preocupante. Diferentemente de países como Austrália, Nova Zelândia e Reino Unido, onde iniciativas como o selo “menopausa amigável” foram implementadas para fornecer flexibilidade e suporte durante essa fase, as empresas brasileiras demonstram pouca ou nenhuma preocupação estruturada com as necessidades desse grupo.

Estudos indicam que muito pouco tem sido feito para combater o estigma e oferecer acolhimento no ambiente de trabalho, o que impacta diretamente a saúde, o bem-estar e a produtividade desses profissionais (Fundação Getúlio Vargas, 2024). A ausência desse suporte reflete uma lacuna grave que faz com que muitas mulheres enfrentem dificuldades que poderiam ser minimizadas com políticas adequadas.

Segundo estudo do Chartered Institute of Personnel and Development (CIPD), do Reino Unido, empresas que adotam essas políticas registram aumento na retenção de profissionais femininas e melhoram na produtividade, além de reduzir o absenteísmo e afastamentos relacionados à menopausa. São organizações que realmente apoiam as mulheres, compreendendo que elas podem precisar sair para consultas e conformidades no momento delicado pelo qual estão passando. Infelizmente, isso ainda está muito longe de ser uma realidade na maioria dos lugares. No Brasil, pelo que sei, não há nenhum movimento semelhante, e isso certamente faria uma grande diferença para essas mulheres.

Para celebrar uma trajetória profissional sólida e prolongada, é fundamental atenção integral à saúde. Cuidar bem do corpo e da mente, manter uma alimentação equilibrada, praticar atividade física regularmente, cuidar do sono e do manejo do estresse, além de fazer ajustes hormonais e suplementares — o que for necessário para melhorar o funcionamento cognitivo — é essencial. Com tudo isso, as mulheres vão conseguir ir muito mais longe, mantendo a saúde em dia.

Mais do que uma atitude individual, a adaptação dos ambientes de trabalho é decisiva para permitir que as mulheres em plena maturidade profissional mantenham seu desempenho. O ambiente corporativo deveria apoiar essas mulheres. Empresas com o selo “menopausa amigável” deveriam oferecer ajuda médica especializada e suporte adequado. Uma mulher que já tem atuação, especialização e experiência deveria ser valorizada, porque ela pode contribuir muito. Experiência é algo que demanda tempo, então é fundamental aproveitar esse potencial, dando o suporte necessário para que continue desenvolvendo suas atividades como sempre fez.

Nas últimas décadas, a ciência avançou no reconhecimento da perimenopausa, período que inicia cerca dos 40 anos, justamente na fase de maior desenvolvimento profissional. O reconhecimento da perimenopausa e o fato de termos ferramentas para diagnosticar essa fase e iniciar o tratamento antes da menopausa representam um grande avanço. Isso permite que as mulheres se mantenham produtivas, porque, caso contrário, elas começarão a apresentar sintomas que impactam tanto na produtividade quanto na carreira.

Além disso, os avanços tecnológicos no tratamento foram desenvolvidos para prolongar a longevidade das mulheres no mercado de trabalho. A reposição hormonal com hormônios bioidênticos não causa câncer nem aumenta o risco de AVC ou trombose. Ela combate sintomas como névoa mental, alterações de memória e declínio cognitivo, que estão ligados à falta de estradiol no cérebro, um hormônio importante para a cognição e até associado ao desenvolvimento do Alzheimer.

Em pleno século XXI, a menopausa continua sendo um tema cercado de tabus. Muitas mulheres passam por essa fase sem entender o que está acontecendo com o próprio corpo. Por isso, o Dia Mundial da Menopausa, celebrado em 18 de outubro e criado pela Organização Mundial da Saúde, é uma data fundamental para promover informação e acolhimento.

É comum que as mulheres se sintam sozinhas ou desamparadas ao enfrentar os primeiros sintomas, sem saber que estão vivendo o início do declínio hormonal. Muitas vezes, elas nem imaginam que aquelas mudanças físicas e emocionais têm relação com a perimenopausa, que é a fase de transição antes da menopausa em si. É nesse momento que o corpo começa a dar sinais e o acompanhamento médico faz toda a diferença.

Falar sobre o tema é a melhor forma de normalizar o processo e preparar as mulheres para essa etapa natural da vida. A menopausa não é o fim de nada, é apenas uma nova fase, que pode e deve ser vivida com qualidade de vida, equilíbrio e autoestima. Precisamos começar a conversar sobre ela muito antes de acontecer, para que as mulheres estejam informadas, seguras e acolhidas quando esse momento chegar.

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Por Dra. Ana Maria Passos

Ginecologista e Obstetra, pós-graduação em Nutrologia e Longevidade Saudável, especialista em saúde da mulher com ênfase em perimenopausa, menopausa, endometriose, síndrome dos ovários policísticos, gestação e puerpério, com mais de 19 anos de atuação.

Artigo de opinião

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