Alinhamento emocional e estratégico: a chave para o sucesso dos casais empresários

Como definir papéis claros e cuidar da saúde mental pode garantir a longevidade dos negócios familiares no Brasil

No Brasil, onde cerca de 90% das empresas têm perfil familiar, cresce o alerta sobre os riscos de misturar casamento e CNPJ sem alinhamento emocional e estratégico. Estudos mostram que a pressão financeira amplia conflitos conjugais e impacta diretamente a continuidade dos negócios.

Casamento e CNPJ dividindo a mesma mesa de jantar já são realidade para boa parte do empreendedorismo brasileiro. Segundo dados do Sebrae e do IBGE, cerca de 90% das empresas do país têm perfil familiar, respondendo por aproximadamente 65% do PIB nacional e 75% dos empregos privados. Ao mesmo tempo, estudos indicam que a pressão econômica aumenta o conflito conjugal e afeta a satisfação no relacionamento, criando um campo de tensão permanente para casais que também são sócios.

A psicóloga e empresária Fernanda Tochetto, fundadora do Tittanium Club e especialista em educação empresarial, compartilha sua experiência pessoal e profissional para revelar os bastidores do casamento e dos negócios. Ela destaca a importância de limites claros, papéis bem definidos e espiritualidade como pilares que sustentam empresas lideradas por casais. “Apenas ditar regras do que precisa ser feito não gera resultado. Mas a partir do momento que citamos quais dores sofremos, e como as transformamos em resultado, o jogo muda porque gera humanização, porque as pessoas se identificam com aquela situação. Afinal, quem nunca sofreu com problemas no relacionamento, principalmente quando há uma gestão conjunta?”

A escolha por expor vulnerabilidades é estratégica. Pesquisa da Endeavor sobre saúde mental do empreendedor aponta que 94% dos fundadores já relataram algum problema emocional ao longo da jornada, 85% mencionam ansiedade, 37% burnout, 21% depressão e 22% ataques de pânico. No Brasil, levantamento da International Stress Management Association (ISMA-BR) indica que mais de 30% dos trabalhadores apresentam sinais de burnout, condição associada à exaustão extrema, queda de desempenho e aumento de conflitos em casa e no trabalho.

Para Fernanda, negar esse desgaste é um risco direto ao negócio e à família. “Na expansão, ocorrem os maiores desafios. Se não liderar a própria mente, o empresário pode se desesperar justamente quando tudo aquilo que mais queria começa a acontecer”, alerta.

Um dos conceitos centrais defendidos por Fernanda ao falar de casais-sócios é o de “não avançar o sinal”. Em linguagem simples, trata-se de evitar a confusão de papéis, o momento em que um dos cônjuges passa a atuar ao mesmo tempo como marido ou esposa, sócio, mentor e, por vezes, “pai ou mãe” do outro. “Se você não separar os papéis, corre o risco de perder o casamento e o negócio juntos”.

A partir da sua experiência, a psicóloga sintetiza cinco pilares essenciais para casais que dividem casa e CNPJ:

1. Definir papéis com clareza
Separar explicitamente os momentos em que se fala como sócio e como cônjuge, e respeitar essa fronteira. “Nem toda conversa de negócio precisa acontecer na mesa do jantar”, afirma Fernanda.

2. Reconhecer e nomear crenças que travam decisões
Identificar o que foi aprendido na infância sobre dinheiro, sucesso e trabalho e questionar se essas crenças ainda fazem sentido para o estágio atual da empresa.

3. Ter mediadores externos para temas sensíveis
Mentores, conselheiros ou terapeutas podem ajudar a discutir expansão, investimentos e mudanças de rota sem que o conflito seja personalíssimo. “Algumas conversas não podem ficar só dentro de casa”, diz.

4. Proteger a saúde mental como ativo do negócio
Estabelecer limites de jornada, revisar a agenda e buscar ajuda especializada diante de sinais de esgotamento. Dados mostram que, sem esse cuidado, a probabilidade de burnout e de conflitos graves aumenta.

5. Tratar espiritualidade e valores como filtro de decisões
Para o casal, decisões de negócio que ameaçam valores considerados inegociáveis – como integridade e preservação da família – simplesmente não entram na mesa. “Ambição sem limite vira risco. Ambição alinhada com propósito vira projeto”, resume Fernanda.

Em um país em que a maioria das empresas nasce e cresce dentro de casa, discutir abertamente os bastidores dos casais-sócios deixa de ser apenas tema de comportamento para se tornar pauta da economia real. “Se você não estiver alinhado dentro de casa, vai encontrar alguém para culpar quando o negócio não andar. A pergunta é, o quanto se está disposto a ajustar antes de avançar o sinal?”

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Por Carolina Lara

Artigo de opinião

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