Formação gratuita para ambulantes destaca a urgência da profissionalização do trabalho de rua no Brasil
Capacitação online oferece ferramentas práticas para fortalecer a economia informal e promover inclusão social entre vendedores ambulantes
Os ambulantes estão presentes em praticamente todas as grandes cidades brasileiras e têm papel central na economia urbana, mas ainda seguem à margem de direitos e de políticas públicas estruturadas. Para você ter uma ideia da dimensão desse cenário, dados do IBGE mostram que, no primeiro trimestre de 2025, mais de 38% dos empregos no Brasil foram sustentados pelo trabalho informal — grupo que inclui milhões de vendedores ambulantes.
Esse contexto abre espaço para uma pauta de serviço e impacto social, com informação prática e histórias reais. Estão abertas até 30 de janeiro as inscrições para o Guia Essencial de Gestão para Ambulantes, uma formação gratuita e de curta duração (duas horas), criada justamente para apoiar quem vive do trabalho nas ruas.
Com linguagem acessível e foco no dia a dia, o guia aborda desde organização de estoque e precificação até gestão financeira, estratégias simples de marketing para atrair clientes, cuidados com o bem-estar, uso de tecnologia e caminhos possíveis para a formalização — temas que dialogam diretamente com os desafios enfrentados por esse público.
A pauta permite discutir informalidade, economia urbana e inclusão produtiva a partir de uma iniciativa concreta, com potencial de orientar trabalhadores e gerar serviço ao leitor.
Presentes em quase todas as grandes cidades e importantes para a economia urbana, os ambulantes compõem um dos grupos mais representativos do trabalho informal no país. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no primeiro trimestre de 2025, mais de 38% dos empregos no Brasil foram sustentados por trabalhadores informais, inclusive ambulantes, o que exclui milhões de pessoas de direitos básicos e de políticas públicas estruturadas.
Os ambulantes enfrentam desafios históricos que vão da falta de reconhecimento à dificuldade de regularização. Apesar de contribuírem diretamente para o giro econômico, muitos seguem invisibilizados, expostos à vulnerabilidade e sem acesso a capacitações que possam fortalecer seu negócio.
Pensando em oferecer mais conhecimentos a estes profissionais, a Aliança Empreendedora, por meio da plataforma Tamo Junto, lançou o Guia Essencial de Gestão para Ambulantes, um curso online, gratuito e voltado exclusivamente para quem trabalha nas ruas. A iniciativa nasceu após anos de atuação com esse público e prevê a qualificação técnica e o fortalecimento da identidade do ambulante como empreendedor.
De acordo com Aline Pereira Pedroso, coordenadora de projetos da Aliança Empreendedora, a demanda desse público é específica. “Na grande maioria, o ambulante não se reconhece como um empreendedor. Então precisamos fazer um trabalho muito minucioso para que ele se perceba como uma pessoa empreendedora, que ele entenda que a força do trabalho dele consegue gerar renda”, explica.
Essa mudança de percepção ajuda o ambulante a estruturar melhor sua atividade e aproveitar oportunidades de venda, seja no dia a dia ou em grandes eventos. “A ideia do curso vem justamente para apoiar esse profissional a gerar renda de forma justa. Como é um trabalho do dia a dia, as entradas e saídas acontecem o tempo todo ou de forma específica em alguns eventos que ele opta por trabalhar”, complementa Aline.
Apesar do aumento das vendas, a ausência de políticas públicas mantém esses profissionais vulneráveis ao longo do ano. Mas algumas capitais brasileiras já começam a avançar em iniciativas de apoio. Em Salvador, por exemplo, a prefeitura abriu um cadastro para mais de 7 mil ambulantes atuarem nas festas em 2026. O objetivo é organizar a atuação desses trabalhadores e assegurar benefícios, como transporte gratuito, alimentação e locais de descanso, contribuindo para maior segurança e melhores condições de trabalho durante os eventos.
Os desafios que marcam o dia a dia dos ambulantes vão muito além da rotina puxada nas ruas. Ainda de acordo com a líder de projetos da Aliança Empreendedora, esse público é diverso e dividido, principalmente, em três perfis: o ambulante por oportunidade, que complementa a renda; o ambulante profissional, que atua durante todo o ano; e o ambulante por necessidade, que precisa de retorno imediato e, por isso, muitas vezes não dispõe de tempo para buscar capacitação.
Entre as dificuldades mais comuns, a organização financeira aparece no topo da lista. Aline descreve um cenário marcado pela instabilidade de ganhos. “O dinheiro do ambulante roda muito. No Carnaval, por exemplo, entra um volume grande. Mas logo depois vem a entressafra. Se ele não tem outra fonte de renda, o valor precisa durar dois ou três meses”, acrescenta.
A busca por licenciamento também é um desafio recorrente e impacta diretamente a segurança e a tranquilidade desses trabalhadores. “Todos têm muito essa demanda de conseguir se licenciar para trabalhar mais tranquilo, e esse curso melhora a postura do ambulante, o relacionamento com outros trabalhadores e até ajuda na pontuação para tirar licença em cidades como Salvador, por exemplo”, afirma.
A líder de projetos completa que, mesmo sem resolver todas as barreiras estruturais, o aprendizado oferecido no Guia Essencial de Gestão para Ambulantes representa um avanço significativo na gestão do negócio. “Eles começam a entender como calcular preço, chegar no lucro, fazer livro-caixa e fluxo de caixa. A capacitação resolve parte importante desses desafios”, diz.
A formalização do conhecimento surge como um divisor de águas na rotina dos ambulantes. Embora muitos trabalhem há anos nas ruas e dominem a dinâmica da venda, isso não significa que o negócio esteja realmente estruturado. “Eles já sabem vender, mas o fato de serem ambulantes há anos dá, muitas vezes, a falsa impressão de que o negócio está dando certo. Muitas vezes eles só estão girando o dinheiro. A importância de formalizar é perceber que, a partir da sua força de trabalho, consegue realizar sonhos, alcançar objetivos e adquirir coisas”, destaca Aline.
Os ambulantes desempenham um papel central em diversas economias locais, especialmente em eventos e grandes circuitos urbanos. “Se ele não estiver na rua vendendo, os produtos não chegam às pessoas que querem consumir. Até hoje é uma profissão que não é regulamentada. Se quiser se formalizar, o máximo é como ambulante de alimentação, o que exclui quem vende bebidas, por exemplo. Precisamos melhorar as condições de trabalho e dar oportunidades para todos”.
O Guia Essencial de Gestão para Ambulantes tem carga horária de duas horas, linguagem acessível, exemplos e orientações diretas sobre temas para o dia a dia dos ambulantes, da organização de estoque à precificação, passando pela gestão financeira, estratégias de marketing para atrair mais clientes e cuidados com bem-estar, uso de tecnologia e caminhos possíveis para a formalização.
A formação é voltada para homens e mulheres ambulantes de todo o país, especialmente aqueles expostos a contextos de vulnerabilidade econômica e social e que, muitas vezes, não contam com qualquer tipo de apoio institucional. Ao reconhecer esses trabalhadores como empreendedores e oferecer ferramentas simples e aplicáveis, a iniciativa busca fortalecer a geração de renda, ampliar oportunidades e garantir mais segurança, autonomia e visibilidade a quem movimenta, e sustenta, parte importante da economia brasileira.
Por Jéssica Amaral
Artigo de opinião



