Como a Gestão Estratégica Está Transformando o Papel do Contador
Indicadores, liderança e cultura de metas impulsionam escritórios contábeis rumo à eficiência e crescimento sustentável
A exigência por gestão estruturada nos escritórios de serviços tem crescido rapidamente, e no setor contábil essa necessidade já se converte em transformação prática. De acordo com dados do Sebrae, 76% das micro e pequenas empresas ainda não utilizam indicadores de desempenho de forma consistente, o que limita a produtividade e reduz a previsibilidade operacional. Estudos da Fenacon apontam que os escritórios que adotam automação aliada a rotinas de gestão registram ganhos expressivos de eficiência.
Para Ney Pinheiro, empresário e fundador do Grupo Qualitycert, esse movimento mudou o papel do profissional da contabilidade. “O técnico continua essencial, mas quem cresce é quem lidera. A gestão passou a ser o que separa o escritório que sobrevive daquele que se expande”, afirma.
O grupo, com atuação em certificação digital, serviços complementares e educação corporativa, passou a adotar uma agenda contínua de gestão e desenvolvimento de lideranças como eixo central da operação. A mudança contribuiu para reduzir o retrabalho, organizar fluxos internos, melhorar o uso do tempo das equipes e ampliar a integração entre as áreas, refletindo uma operação mais previsível e alinhada às demandas do negócio.
Ney explica que a mudança acontece quando o proprietário abandona o modelo reativo e passa a organizar o negócio com dados e rotinas claras. “Quando a empresa começa a trabalhar com metas semanais, controles organizados e devolutivas estruturadas, a operação flui e o cliente percebe imediatamente”, diz o empresário.
A estrutura adotada no grupo se apoia em cinco pilares apresentados por Ney como essenciais para escritórios que desejam amadurecer a gestão. São eles:
– Clareza operacional: Estabelece processos e responsabilidades de forma objetiva, reduzindo retrabalho e ampliando previsibilidade na operação.
– Comunicação contínua: Mantém alinhamento por meio de rituais semanais e devolutivas estruturadas, diminuindo ruídos e acelerando o fluxo de trabalho.
– Gestão por indicadores: Organiza decisões com base em métricas como produtividade, prazos e taxa de erros, permitindo antecipar gargalos e ajustar a operação.
– Desenvolvimento das pessoas: Inclui treinamentos direcionados e acompanhamento individual para fortalecer autonomia e elevar a qualificação técnica da equipe.
– Cultura de metas e entregas: Define objetivos trimestrais claros e acompanha resultados com disciplina gerencial, criando previsibilidade e sustentação para o crescimento.
O aumento da complexidade regulatória também contribui para ampliar o protagonismo do contador como gestor. Com a digitalização de obrigações acessórias e a maior integração fiscal, o volume de dados exigido pelas administrações tributárias cresceu mais de 30% na última década, segundo análises do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação.
Esse cenário pressiona os escritórios a estruturarem operações mais sólidas para lidar com demandas de alta precisão sem comprometer a qualidade das entregas. Para Ney, o contexto reforça a necessidade de líderes preparados. “O setor está mais técnico e mais exigente. Sem gestão, a complexidade vira gargalo. Com gestão, vira oportunidade”, avalia.
A mudança no perfil das equipes também influencia essa transformação. Pesquisas de ambiente de trabalho da FGV mostram que os novos profissionais valorizam autonomia, clareza de expectativas e feedbacks frequentes. No setor contábil, onde prazos são rígidos, escritórios que organizam rituais de comunicação registram menor rotatividade e maior engajamento. A prática se alinha diretamente aos pilares apresentados por Ney e contribui para reduzir desgaste e aumentar eficiência operacional.
A própria estrutura econômica do segmento está em evolução. Serviços complementares, como certificação digital, controle de obrigações de SST e gestão documental, ampliaram a receita média por cliente, exigindo coordenadores capazes de integrar processos que antes funcionavam de forma isolada. A profissionalização da gestão dá ao contador as ferramentas necessárias para conduzir essa expansão sem sobrecarregar equipes ou comprometer qualidade. Na visão de Ney, o futuro será formado por escritórios mais completos e operados com mentalidade empresarial. “O crescimento exige liderança. Quem amadurecer a gestão terá espaço para diversificar serviços e atender clientes mais exigentes”, afirma.
Para especialistas do setor, a liderança tende a se tornar o principal fator de diferenciação do mercado contábil nos próximos anos. A combinação de dados, processos estruturados, desenvolvimento de pessoas e metas bem definidas transforma escritórios antes dependentes do conhecimento técnico do proprietário em operações mais robustas, integradas e sustentáveis. O movimento reforça a transição do contador para estrategista, responsável por liderar equipes, coordenar fluxos e sustentar o crescimento contínuo do negócio em um ambiente cada vez mais desafiador.
Por Carolina Lara
Artigo de opinião



