O risco das recaídas no consumo de substâncias durante as festas de fim de ano
Como o ambiente festivo e os gatilhos emocionais aumentam a vulnerabilidade de quem está em recuperação
O aumento de eventos sociais no fim do ano também representa risco para pessoas com histórico de uso abusivo de álcool ou outras drogas. Dados da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) mostram que o consumo de álcool pode aumentar até 60% no período de festas, tornando dezembro um dos meses mais críticos para recaídas.
Para a psiquiatra Bianca Bolonhezi, CEO do Instituto Macabi, recaídas são comuns porque os gatilhos emocionais — como nostalgia, estresse e cobranças familiares — se somam ao ambiente festivo. “Há um incentivo coletivo ao consumo, como se beber fosse parte obrigatória da comemoração. Para quem está em tratamento, isso cria uma vulnerabilidade significativa”, explica.
Bianca reforça que dependência química é uma doença crônica e complexa, não uma falha de caráter. “Pacientes em recuperação precisam de planejamento, suporte e ambientes que não reforcem gatilhos. A estratégia não deve ser simplesmente ‘evitar tudo’, mas construir autonomia com responsabilidade e apoio adequado.”
Como família e amigos podem ajudar
A psiquiatra afirma que a rede de apoio tem papel direto na prevenção de recaídas — e, muitas vezes, na identificação precoce de sinais de risco. Entre os comportamentos que merecem atenção estão:
• aumento da irritabilidade antes de eventos sociais;
• isolamento repentino;
• mudanças bruscas no padrão de sono;
• comentários que demonstram ambivalência (“acho que posso beber só um pouco…”);
• busca por situações onde o consumo é mais fácil.
Bianca recomenda que familiares e amigos adotem uma postura acolhedora, nunca acusatória. “Pressionar alguém a beber ‘só um pouquinho’ pode causar danos sérios. Ajudar significa oferecer alternativas, combinar previamente estratégias de proteção, e estar disponível caso a pessoa queira sair mais cedo ou evitar determinadas situações.”
A psiquiatra reforça que recaídas fazem parte do processo terapêutico — e, com suporte adequado, é possível reduzir danos e fortalecer a continuidade do tratamento. “Ninguém precisa enfrentar isso sozinho. A presença compassiva de uma rede de apoio pode ser decisiva”, conclui Bianca.
Por Bianca Bolonhezi
psiquiatra, CEO do Instituto Macabi
Artigo de opinião



