Barreiras e Desafios do Empreendedorismo Feminino no Brasil: Um Chamado à Ação
Apesar do crescimento expressivo, mulheres empreendedoras enfrentam obstáculos estruturais que ameaçam a sustentabilidade e expansão de seus negócios.
Em 2025, o empreendedorismo feminino no Brasil alcançou números que merecem comemoração e atenção. Os dados mostram que mais de 10 milhões de mulheres estão à frente de negócios no país, um recorde que expressa tanto a resiliência quanto a iniciativa feminina diante de um mercado em transformação.
Apesar desse aumento em participação, o cenário revela fragilidades estruturais que podem limitar a sustentabilidade e o crescimento desses empreendimentos. Em termos de representatividade, as mulheres corresponderam a cerca de 34% dos empreendedores, sinalizando progresso, mas também a existência de barreiras em relação à igualdade de gênero na economia.
Um dos maiores desafios que nossas empreendedoras enfrentam é o acesso ao crédito. Estudos apontam que apenas uma parcela reduzida dos recursos destinados a pequenos negócios – cerca de 25% – chega às mulheres enquanto existem muitas linhas que beneficiam majoritariamente empreendimentos masculinos. Essa diferença significa menos capital para investimentos, estoque e profissionalização das empresas lideradas por mulheres.
Outro problema são as taxas de juros mais altas cobradas das empreendedoras. Pesquisas apontam que empresárias, especialmente as microempreendedoras, chegam a pagar taxas médias efetivas superiores às dos homens, reduzindo ainda mais a viabilidade financeira de expansão dos seus negócios. Essa diferença agrava desigualdades já existentes e aumenta o risco de endividamento e de fechamento prematuro.
Outro aspecto que precisa ser considerado é a jornada das empreendedoras. Muitas mulheres acumulam uma jornada dupla ou tripla que engloba administrar o negócio, cuidar da casa e também da família, o que limita tempo para gestão estratégica, capacitação, networking e busca por novos mercados. Pesquisas apontam alto índice de sobrecarga das empreendedoras, com impactos diretos na produtividade, na capacidade de inovação e na expansão dos negócios.
As desigualdades raciais também atravessam esse ecossistema: negócios de propriedade de mulheres negras tendem a ser menores, com menor formalização e menor renda média, o que exige políticas específicas de inclusão e fomento para reduzir essa assimetria territorial e racial.
Para 2026, precisamos consolidar os ganhos de participação feminina e reduzir as vulnerabilidades que limitam a qualidade desse avanço. Algumas prioridades práticas e políticas públicas devem priorizar:
– Linhas de crédito — ampliar produtos financeiros com juros e garantias compatíveis à realidade de micro e pequenas empresárias, incluindo planos específicos para MEIs lideradas por mulheres e por negras.
– Desburocratização dos serviços — expandir e digitalizar capacitação, consultorias e redes de mentoria, com oferta em horários e formatos compatíveis com jornadas reduzidas.
– Compras públicas — criar cotas e estímulos para que compras governamentais e grandes cadeias contratem produtos e serviços de empreendedoras.
O Brasil vive hoje um momento promissor no protagonismo feminino no empreendedorismo com mais empreendedoras, que significam mais diversidade de ideias, mais resiliência econômica e maior dinamismo para a economia local. Entretanto, sem ações estruturais que enfrentem o acesso desigual ao crédito, o ônus das taxas mais altas, a sobrecarga de trabalho e as desigualdades raciais, corre-se o risco de que o crescimento permaneça concentrado em negócios de subsistência, em vez de negócios sustentáveis e escaláveis.
Precisamos reconhecer o avanço quantitativo e, ao mesmo tempo, implementar medidas que transformem qualidade, igualdade e oportunidade em resultados concretos. Só assim transformaremos a presença feminina no empreendedorismo em um motor potente de desenvolvimento econômico e social para todo o país.
Por Ana Claudia Badra Cotait
Presidente do CMEC Nacional – Conselho Nacional da Mulher Empreendedora e da Cultura, órgão da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (FACESP) e da Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB)
Artigo de opinião



