Autoexclusão nas apostas: um passo fundamental para o tratamento da ludopatia
Plataforma nacional bloqueia acesso a casas de apostas e abre caminho para o suporte no SUS
A plataforma nacional de autoexclusão anunciada pelo Governo Federal cria um mecanismo único para que usuários bloqueiem o próprio acesso a todas as casas de apostas licenciadas no país. Antes, era necessário solicitar o bloqueio individualmente, site por site.
Para o psicólogo clínico Leonardo Teixeira, especialista em comportamentos compulsivos, a ferramenta funciona como uma barreira inicial que reduz o acesso em momentos de maior impulso. “Quando alguém solicita a autoexclusão, está reconhecendo que perdeu a capacidade de frear sozinho e precisa de ajuda externa”, afirma.
Segundo Teixeira, a medida é complementar ao atendimento clínico. O Ministério da Saúde incluiu a ludopatia em sua linha de cuidado e determinou que todos os CAPS ofereçam suporte específico para casos ligados a jogos. “Quando existe uma estrutura pública organizada, a pessoa deixa de enfrentar o problema sozinha”, diz.
A compulsão em apostas, de acordo com o psicólogo, envolve perda de autonomia e decisões guiadas pelo impulso, não por escolha racional. O bloqueio centralizado reduz esses episódios e abre espaço para que a pessoa busque tratamento. Segundo Teixeira, a plataforma também pode ajudar o Ministério da Saúde a identificar padrões de comportamento e regiões mais afetadas, informações que devem orientar ações futuras de prevenção.
O que fazer além da autoexclusão
Segundo Leonardo Teixeira, algumas orientações podem apoiar o período após a autoexclusão:
– Reduzir gatilhos imediatos: evitar ficar sozinho nos horários em que costumava jogar; desinstalar aplicativos que facilitem depósitos; deixar cartões e senhas fora do alcance em momentos críticos.
– Atravessar a vontade de apostar: nomear o impulso (“estou com vontade agora”); esperar alguns minutos antes de agir; fazer uma atividade de deslocamento rápido de atenção.
– Quando procurar ajuda: prejuízo financeiro, impacto na rotina ou dificuldade de interromper sozinho.
Orientações para familiares:
– Ouvir sem julgamento;
– Ajudar, se houver acordo, na organização financeira;
– Incentivar o atendimento profissional.
– Evitar vigilância excessiva e cobranças que aumentem isolamento.
Por Leonardo Teixeira
Psicólogo clínico, especialista em comportamentos compulsivos, com mais de nove anos de experiência; criador do Programa Cartada Final; formado em Psicologia pela Universidade do Contestado (SC); pós-graduado em Psicologia do Esporte; especialista em Gestalt-terapia; referência no tema do vício em apostas; criador do maior canal sobre vício em apostas no Brasil com mais de 110 mil seguidores.
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