Wegovy aprovado para tratar gordura no fígado: um avanço no cuidado metabólico

Entenda como a nova indicação da semaglutida pode transformar o tratamento da MASH e o impacto especial para mulheres na menopausa

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou um novo uso terapêutico do Wegovy (semaglutida 2,4 mg) no Brasil. A partir de agora, o medicamento, conhecido popularmente como uma das “canetas emagrecedoras”, também poderá ser utilizado no tratamento da MASH (esteato-hepatite associada à disfunção metabólica), condição caracterizada pelo acúmulo de gordura no fígado associado a inflamação, em pacientes adultos.

A decisão foi publicada no Diário Oficial da União e se baseia nos resultados do estudo clínico de fase 3 ESSENCE, um dos mais robustos já conduzidos até o momento para essa condição. Os dados indicam que 63% dos pacientes tratados com semaglutida 2,4 mg apresentaram resolução da inflamação hepática, contra 34,3% no grupo placebo. Além disso, 37% dos participantes tiveram melhora da fibrose hepática, estágio mais avançado da doença, em comparação a 22,4% entre os que não receberam o medicamento.

O estudo acompanha adultos com MASH e fibrose moderada a avançada ao longo de 240 semanas. Os resultados finais estão previstos para 2029, mas os dados intermediários já foram considerados suficientes para embasar a aprovação regulatória.

Essa decisão representa um ponto de inflexão no cuidado com uma doença silenciosa e frequentemente subdiagnosticada. A esteatose hepática, também conhecida como gordura no fígado, começa com uma classificação chamada MASLD (Doença Hepática Esteatótica Associada à Disfunção Metabólica), uma doença metabólica do fígado em que há apenas o acúmulo de gordura. Contudo, ela pode evoluir, ao longo do tempo, para cirrose e se tornar uma das principais causas de transplante hepático, inclusive em mulheres sem câncer de fígado.

A menopausa é um período especialmente crítico, porque acelera a transição da gordura simples no fígado para quadros de fibrose hepática. Antes da pré-menopausa, os homens apresentam um risco cerca de 19% maior de desenvolver esteatose hepática em comparação às mulheres. No entanto, quando elas entram na pré-menopausa e na menopausa, essa relação se inverte: o risco feminino passa a ser aproximadamente 37% maior, especialmente para formas mais avançadas da doença.

Estima-se que mais de 250 milhões de pessoas no mundo convivam com a MASH, número que pode dobrar até 2030, impulsionado pelo avanço da obesidade e de distúrbios metabólicos. No Brasil, especialistas alertam que muitos pacientes só descobrem a doença em fases avançadas, quando os danos ao fígado já estão estabelecidos.

A aprovação do Wegovy para essa nova indicação reforça uma mudança de paradigma no tratamento de doenças metabólicas. É uma ótima notícia. Ficamos felizes em entender como podemos ajudar essas pessoas, principalmente as mulheres na menopausa, a não evoluírem para uma MASH – que é grave e também reflete um risco cardiovascular aumentado.

Atualmente, o Wegovy já é indicado para o controle crônico do peso em adultos com obesidade ou sobrepeso associado a comorbidades, além de adolescentes a partir de 12 anos com obesidade grave. Com a nova aprovação, amplia-se o papel da semaglutida no manejo de condições metabólicas complexas, reforçando a interconexão entre fígado, metabolismo e saúde sistêmica.

Vale lembrar que o uso do medicamento deve seguir rigorosamente a prescrição médica, com acompanhamento contínuo, especialmente em pacientes com doença hepática avançada. A expectativa é que a aprovação também estimule maior rastreamento e diagnóstico precoce da MASH no país, trazendo a condição para o centro das discussões sobre saúde metabólica.

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Por Alessandra Rascovski

endocrinologista, PhD, diretora médica da Atma Soma, autora do livro "Atmasoma – O equilíbrio entre a ciência e o prazer para viver mais e melhor" (EV Publicações, 2026)

Artigo de opinião

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