Moda 2026: A Era da Maturidade Digital e o Novo Perfil do Consumidor
Consumo desacelera, e marcas precisam repensar estética, narrativa e comunidade para se destacar no mercado cada vez mais seletivo
Relatórios internacionais indicam que o consumo impulsivo na moda está perdendo força, enquanto o engajamento superficial diminui e cresce a busca por marcas com identidade consistente. O ano de 2026 consolida um consumidor mais seletivo, e o mercado brasileiro precisará ajustar sua comunicação para acompanhar essa transformação.
A moda está passando por um ponto de inflexão que vai além das tendências estéticas, envolvendo mudanças profundas no comportamento do consumidor. O State of Fashion 2024–2025, elaborado pela McKinsey e pelo Business of Fashion, aponta que o setor entrará em um ciclo de crescimento mais lento, porém mais qualificado, marcado por uma “reavaliação de prioridades” do público.
O consumidor global está reduzindo compras impulsivas e priorizando produtos com maior valor percebido, histórias coerentes e experiências que justifiquem a decisão de compra. Esse movimento pós-pandemia reforça a busca por significado, propósito e uma estética consistente.
No Brasil, pesquisas recentes da McKinsey mostram que o consumidor está mais sensível à narrativa das marcas e menos tolerante ao excesso de estímulos digitais. Embora o tempo de atenção continue em queda — reflexo da economia da atenção —, o interesse por marcas com identidade clara permanece estável ou até cresce.
Essa virada exige uma revisão estrutural da presença digital das marcas. O consumidor atual não quer volume, quer clareza. Ele não responde mais ao excesso, mas ao que faz sentido. Nesse processo, a inteligência artificial (IA) é bem-vinda como ferramenta, desde que usada com intenção.
A IA complementa, mas não substitui o olhar humano, especialmente na comunicação e construção de identidade. A tecnologia ajuda, mas o toque humano é o que imprime verdade e narrativa.
Apesar da popularização de imagens geradas por IA, as fotos reais continuam essenciais. O mercado tem sido inundado por imagens artificiais, mas a força de uma foto real — que carrega história e autenticidade — permanece insubstituível.
A partir de análises de varejo internacional e da observação do comportamento de jovens em instituições como o SENAC, três movimentos devem se consolidar em 2026:
1) Estética como estratégia — não apenas aparência
Com a sobrecarga informacional, a estética funciona como um “atalho cognitivo”: comunica identidade em segundos. Estética coerente é percepção de valor. Em 2026, marcas com identidade visual inconsistente terão dificuldade para se manter relevantes.
2) Narrativa como posicionamento — não tendência
O “storytelling profundo” será um dos principais diferenciais do próximo ciclo. O consumidor está comprando menos, mas comprando melhor. Ele quer contexto, história e autenticidade.
3) Comunidade como ativo estratégico
Mais do que seguidores, marcas precisarão construir grupos que compartilhem valores, estética e propósito. Comunidades engajadas impactam diretamente lealdade, recomendação e retenção.
2026 será o ano da profundidade e da consistência — equilibrando tecnologia e humanidade. O digital amadureceu. A IA acelera processos, mas quem dá direção é o humano. As pessoas querem pertencimento, coerência e propósito aplicado.
Em um cenário de desafios globais — desaquecimento econômico, pressão por sustentabilidade e regulação mais rígida —, o Brasil chega a 2026 diante de uma oportunidade: construir marcas mais sólidas, inteligentes e intencionais.
Comunicar não é ocupar espaço. É construir significado.
Por Beatriz Illipronti
estrategista de moda, fundadora da Moda Comunica
Artigo de opinião



