A Transformação do Cuidado em Saúde pela Atenção Primária Multidisciplinar
Como equipes integradas promovem bem-estar, prevenção e segurança no tratamento de saúde
Você já pensou que, para um cuidado de saúde realmente eficaz, um único profissional pode não ser suficiente? A complexidade do nosso bem-estar exige um olhar integrado, e é exatamente essa a proposta da Atenção Primária à Saúde (APS): um modelo que coloca o paciente no centro de uma equipe multidisciplinar, focada não apenas em tratar doenças, mas em promover qualidade de vida e prevenir problemas futuros.
Na sua essência, a APS cuida de pessoas, e não apenas de condições específicas. É um modelo capaz de atender até 85% das necessidades de saúde de alguém ao longo de toda a vida, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), oferecendo atenção integral o mais perto possível do seu ambiente cotidiano. Isso inclui um espectro completo de serviços que vão desde a promoção da saúde, passando por prevenção, tratamento e controle, até cuidados contínuos.
Mas como isso funciona na prática? O segredo está na atuação integrada de uma equipe de saúde completa, que trabalha de forma coordenada para garantir o melhor resultado.
“O objetivo é oferecer um cuidado contínuo e completo. Quando diferentes especialistas trabalham juntos, conseguimos identificar riscos de forma precoce, fortalecer o autocuidado e garantir que o tratamento seja o mais seguro e eficaz possível”, explica Leonardo Demambre Abreu, médico de família e comunidade e coordenador técnico da Amparo Saúde, serviço de gestão da saúde de grupos populacionais e APS do Grupo Sabin.
Em um modelo de Atenção Primária, cada profissional tem um papel fundamental e complementar.
Enfermeiro: É o seu ponto de referência. Ele coordena o plano de cuidado, avalia riscos, orienta sobre o autocuidado e acompanha a evolução clínica ao longo do tempo.
Médico de Família: Atende pessoas de todas as idades, desde crianças a idosos. Ele faz o diagnóstico e indica o tratamento, sempre em parceria com o enfermeiro e o paciente.
Técnico de Enfermagem: Oferece o suporte assistencial, realizando aferições (pressão, glicemia), curativos e outros procedimentos essenciais no dia a dia.
Nutricionista: Cria um plano alimentar personalizado, ajudando a controlar doenças crônicas como diabetes e hipertensão, e identifica como a alimentação pode estar interferindo na saúde do paciente.
Psicólogo: Ajuda a lidar com os fatores emocionais e comportamentais que impactam a saúde, como ansiedade, estresse e a dificuldade de aderir a um tratamento.
Farmacêutico Clínico: Garante que os medicamentos usados são seguros, eficazes e não “brigam” entre si, evitando interações perigosas e efeitos adversos.
O perigo silencioso: o papel crucial do farmacêutico clínico
Erros de medicação são um problema grave e comum. Segundo a OMS, eles estão entre as principais causas de danos evitáveis nos sistemas de saúde. Pacientes que usam múltiplos medicamentos (polifarmácia) estão especialmente em risco de interações perigosas ou intoxicações.
“A integração entre farmacêutico, enfermeiro e médico é fundamental, especialmente para quem faz tratamento em casa. O farmacêutico pode identificar um risco que passaria despercebido, sugerir um ajuste na dose ou até a substituição de um remédio, garantindo a segurança do paciente”, destaca Abreu.
Um plano de cuidado único: o Plano Terapêutico Singular (PTS)
Para garantir que o cuidado seja realmente personalizado, a equipe se reúne para discutir cada caso e, quando necessário, elabora um Plano Terapêutico Singular (PTS). Trata-se de um documento vivo, construído com o paciente, que define metas de saúde, responsabilidades de cada um (profissional e paciente) e prazos para reavaliação.
“Esse modelo fortalece o vínculo, a confiança e a continuidade do cuidado. O paciente deixa de ser um número e passa a ser um parceiro ativo na sua própria saúde. É isso que define uma Atenção Primária de alta qualidade”, conclui o médico.
Modelos como o da Amparo Saúde demonstram que investir na prevenção e no cuidado coordenado é o caminho para uma população mais saudável e um sistema de saúde mais justo e eficiente.
Por Deborah Lima
Artigo de opinião



