O Valor das Narrativas Acolhedoras e Desaceleradas nas Férias Infantis
Como histórias sensoriais e calmas promovem descanso emocional e desenvolvimento durante o período de férias escolares
Com a chegada das férias, muitas famílias buscam atividades para entreter as crianças. Mas, para a pedagoga e editora de livros infantis Patricia Crepaldi, o período pode cumprir outra função: a de oferecer descanso emocional. Ela observa que, nesse momento do ano, obras que acolhem e desaceleram têm sido cada vez mais procuradas por responsáveis e educadores.
“As crianças passam o ano inteiro sob pressão de rotinas, telas e estímulos contínuos. Histórias com atmosfera sensorial e narrativa calma funcionam como um contraponto essencial. Elas ajudam a reorganizar emoções, estimulam o imaginário e criam espaços de respiro afetivo”, afirma Patricia, que atua também na curadoria editorial da Emó Editora.
Segundo ela, esse tipo de leitura não exige ação acelerada, conflitos intensos ou grandes reviravoltas. O impacto está na delicadeza com que cada história convida a criança a se perceber no mundo. “Livros que acolhem não disputam atenção. Eles criam tempo interno. E esse tempo é fundamental para que a criança compreenda experiências e sentimentos vividos ao longo do ano”, explica.
Pesquisas em psicologia e neurodesenvolvimento indicam que esse ambiente literário favorece linguagem, imaginação e regulação emocional — fatores importantes em períodos de transição, como o encerramento do ano letivo. “As férias não suspendem o desenvolvimento infantil. Pelo contrário, ampliam as condições para que ele aconteça de forma mais espontânea e menos sobrecarregada”, diz.
A tendência aparece em diferentes títulos recentes da Emó Editora, que desenvolve obras voltadas a experiências sensoriais e afetivas. Patricia destaca alguns livros que respondem à demanda por histórias que acolhem, acalmam e ajudam a desacelerar:
“Vila Encantada” — Selma Bellusci
O livro apresenta uma narrativa que convida a criança a observar o cotidiano com encantamento. A história transforma elementos simples — como lugares do bairro e figuras da convivência — em portas para a imaginação, criando pontes entre rotina, curiosidade e descoberta.
“As Aventuras de Lillyn” — Jhennifer Willys
A história traz a narrativa sobre uma menina que transita entre o real e o mágico para viver desafios que fortalecem autonomia, coragem e criatividade. O livro brinca com a fantasia para falar de amadurecimento emocional, pertencimento e poder interior.
“Banho de Samambaia” — Thayame Porto e Béu
“Banho de Samambaia” é uma história afetiva sobre vínculos familiares e memórias que atravessam gerações. A obra usa a relação entre neta e avó como caminho para discutir raízes, identidade e a forma como a infância registra cheiros, gestos e tradições.
“Luiz, a Gotinha Feliz” — Fernanda Sobrinho e Alice Proença
Neste livro, as autoras transformam conceitos do ciclo da água em narrativa leve e divertida, aproximando ciência, imaginação e emoção. O livro ajuda crianças a compreender transformações da natureza e, ao mesmo tempo, a lidar com seus próprios sentimentos, de forma lúdica e educativa.
“Inventanças” — Henrique André
As lembranças doces da infância nos remetem à época em que tudo era mais fácil, simples e a imaginação era maior do que o mundo. O livro aborda essas doces lembranças que guardamos em nossos corações, propondo reflexões sobre memória e nostalgia.
Para Patricia, a curadoria desse tipo de literatura se torna ainda mais relevante diante da rotina contemporânea. “A infância precisa de pausas. E a literatura pode ser esse território de descanso interno. São histórias que não apenas entretêm, mas acolhem. Ajudam a criança a respirar, imaginar e reorganizar o que sente”, conclui.
Por Patricia Crepaldi
Mestra em Ciências Sociais pela PUC-SP, pedagoga e licenciada em Artes pela Unesp, especialista em gestão escolar, arte e educação, novas tecnologias e mídias na educação; CEO e editora de livros infantis na Emó Editora
Artigo de opinião



