O Impacto do Uso Excessivo de Telas na Conexão Familiar e no Desenvolvimento Infantil
Como a hiperconexão digital fragiliza vínculos e o que pais podem fazer para restaurar o diálogo e a presença emocional em casa
O avanço da hiperconexão tem provocado mudanças profundas na dinâmica das famílias brasileiras. O uso excessivo de celulares, tablets e computadores tem reduzido o tempo de convivência real entre pais e filhos, fragilizando vínculos e aumentando os sinais de ansiedade, desatenção e isolamento. Vivemos em um ambiente em que as telas informam e divertem, mas também afastam quando não há equilíbrio.
Pesquisas recentes respaldam essa preocupação. Dados do Unicef apontam que crianças e adolescentes brasileiros passam, em média, 6 horas e 42 minutos por dia conectados, uma das maiores marcas do mundo. Já estudo da Common Sense Media mostra que 51% dos pais relatam que os filhos “estão constantemente distraídos por telas”, enquanto 36% admitem que também se distraem diante delas quando deveriam interagir com suas crianças.
O impacto é direto no ambiente doméstico. O acesso precoce e sem acompanhamento tem colocado crianças diante de conteúdos inadequados, além de comprometer brincadeiras, movimento e interação com outras pessoas. As crianças nasceram em um mundo digital e isso faz parte da realidade delas. O problema não está no uso, mas no excesso e na falta de orientação. Estabelecer limites não significa repressão, mas construção de autonomia e consciência. Crianças precisam de telas, sim, mas precisam ainda mais de chão, de sol e de gente.
O fenômeno da “presença ausente” — quando pais e filhos estão fisicamente próximos, mas emocionalmente desconectados por causa das telas — é um dos pontos que mais preocupa. A comunicação mediada por mensagens dentro da própria casa tem substituído conversas diretas e empobrecido os laços. O celular virou o novo membro da família. Ele está à mesa, no sofá e até na hora de dormir. Enquanto todos olham para a tela, o olhar humano desaparece. Retomar rituais como refeições sem dispositivos e momentos de convivência desconectada é essencial para restaurar a atenção e o vínculo.
Quando o assunto é estabelecer limites, muitos pais cedem por culpa ou receio de contrariar os filhos. Impor regras não é um ato autoritário, mas de cuidado. Educar é ensinar equilíbrio. É preciso conversar sobre o porquê dos limites, não apenas impor regras. Recomenda-se que os pais participem das experiências digitais das crianças, assistindo conteúdos juntos e dialogando sobre o que veem. A melhor forma de educar no digital é pelo exemplo. O que os pais fazem com suas telas fala mais alto do que qualquer discurso.
A educação digital deve ser compreendida como parte essencial da formação humana, e não apenas como controle tecnológico. Educação digital não é sobre tecnologia, é sobre humanidade. É sobre ensinar nossos filhos a estarem no mundo sem se perderem nele. O processo começa dentro de casa, com a redução das distrações e com o resgate de interações que nenhuma tela substitui: escuta, presença e vínculo.
Por Celso Aparecido Américo dos Santos
Administrador de empresas, Teólogo, palestrante e educador nas áreas de finanças pessoais e relacionamentos familiares, com formação e treinamentos pela Igreja do Evangelho Quadrangular e Universidade da Família; empresário; curso de especialização em empreendedorismo pelo EMPRETEC (programa da ONU); Realtor e professor de espanhol
Artigo de opinião



