Mulheres e Novas Gerações Impulsionam a Filantropia em Grandes Fortunas Brasileiras
Estudo inédito revela que a filantropia está se tornando um diferencial estratégico nos family offices, com protagonismo feminino e foco em impacto social de longo prazo.
A filantropia tem ganhado espaço crescente nas famílias de alta fortuna no Brasil, deixando de ser um ato pontual para se tornar parte integrante das discussões sobre identidade, legado e propósito familiar. Um estudo inédito, que ouviu 70 family offices e 23 famílias filantrópicas, revela que mulheres e sucessores das novas gerações são os principais protagonistas dessa transformação, liderando a pauta de impacto social em quase metade dos family offices pesquisados.
Os family offices, estruturas dedicadas à gestão patrimonial de famílias de alta renda, estão passando por uma mudança significativa. Tradicionalmente focados em rotinas financeiras e operacionais, eles começam a assumir um papel estratégico na integração entre capital, propósito e impacto social. Contudo, o estudo mostra que ainda há um longo caminho a percorrer: 23% dos family offices sequer abordam o tema da filantropia, e 78% das famílias acreditam que suas estruturas não estão preparadas para apoiar essa agenda.
O protagonismo feminino e geracional é um dos aspectos mais marcantes dessa nova fase. Entre os multi family offices, 47% indicam que os sucessores impulsionam a conversa sobre filantropia, enquanto 25% apontam as mulheres como líderes nessa pauta. Essa mudança reflete uma nova forma de enxergar o patrimônio, menos voltada à reputação e mais alinhada à coerência entre valores e ações concretas.
Além disso, 77% das famílias afirmam que doam com o objetivo de gerar transformação social efetiva, e 55% veem a filantropia como um meio de transmitir valores entre gerações. No entanto, a falta de tempo, priorização e conhecimento são barreiras significativas para que os family offices ampliem seu papel consultivo e estratégico na área.
O crescimento do setor é expressivo: o número de family offices formais no Brasil cresceu 82,5% em três anos, com R$457 bilhões sob gestão. Globalmente, a transferência de fortunas entre gerações deve atingir US$124 trilhões até 2048, com 70% desse patrimônio herdado por mulheres, o que reforça a importância do protagonismo feminino na agenda filantrópica.
Para que a filantropia se consolide como diferencial competitivo, os family offices precisam evoluir do modelo operacional para um modelo consultivo e relacional, oferecendo curadoria, aconselhamento estratégico e integração de métricas de impacto socioambiental aos relatórios financeiros. Essa transformação permitirá que as famílias não apenas gerenciem seu patrimônio, mas também construam legados alinhados a seus valores e propósitos.
Em suma, a filantropia está deixando de ser um tema periférico para se tornar central nas estratégias de gestão patrimonial de grandes fortunas. O sucesso dos family offices do futuro será medido não apenas pelo crescimento financeiro, mas também pela capacidade de gerar impacto social positivo e fortalecer o diálogo entre gerações, com as mulheres e os jovens assumindo papel de liderança nesse processo.
Por Juliana de Paula e Cássio Aoqui
Juliana de Paula – conselheira em Filantropia para Famílias e Family Offices, ex-líder da área de filantropia do BTG Pactual; Cássio Aoqui – pesquisador e doutor em Ciências pela USP, especialista em Filantropia
Artigo de opinião



