Dezembrite: enfrentando os desafios emocionais do fim de ano com equilíbrio
Como lidar com a pressão, ansiedade e expectativas do último mês do ano para transformar esse período em um momento de reflexão e renovação
A chegada de dezembro costuma trazer um misto de emoções. Enquanto muitos se empolgam com as festas, confraternizações e a oportunidade de celebrar um novo ciclo, outros experimentam sentimentos de estresse, ansiedade e até tristeza. Esse fenômeno, popularmente conhecido como “Dezembrite” ou Síndrome do Final do Ano, afeta cerca de 80% das pessoas, segundo a International Stress Management Association (Isma), e está diretamente ligado às reflexões e cobranças que o mês desperta.
A Dezembrite é caracterizada pelo impacto emocional causado pelo encerramento de um ciclo e por tudo que isso representa. O último mês do ano é um período em que muitas pessoas avaliam suas conquistas e desafios, fazendo um balanço nem sempre positivo do que viveram. Essa pressão pessoal, somada a uma enxurrada de compromissos sociais, despesas extras e a sensação de que ainda há muito a ser feito antes que o ano termine, pode gerar sintomas como angústia, irritabilidade, tristeza, insônia, sensação de vazio e cansaço físico ou emocional. Para alguns, esses sentimentos aumentam quando confrontados com metas não alcançadas, promessas frustradas e a constante comparação com o que veem na vida de outras pessoas, especialmente em redes sociais.
O impacto das redes sociais nesse cenário não pode ser ignorado. O universo digital transforma o fim do ano em uma vitrine de vidas idealizadas, recheadas de viagens, festas e conquistas que nem sempre refletem a realidade. Para quem já está emocionalmente vulnerável, essas imagens podem intensificar a sensação de inadequação e a percepção de que não se está à altura das expectativas sociais. Esse quadro, ainda que temporário para muitos, pode evoluir para algo mais sério, como ansiedade crônica ou depressão, caso os sentimentos negativos persistam após o término das festas.
Embora o final do ano seja naturalmente um período de balanços, é importante buscar formas saudáveis de encarar esse momento. Uma atitude prática é aceitar que nem tudo sai como planejado e que isso é parte natural da vida. O que passou, passou, e não vale a pena carregar a culpa pelo que não foi realizado. Além disso, desacelerar, encontrar um tempo para o autocuidado e priorizar momentos que realmente tragam bem-estar podem ajudar a equilibrar as exigências desse período. Participar de confraternizações e celebrações deve ser uma escolha genuína, e não uma obrigação. Isso vale para o consumo: presentear é um gesto bonito, mas deve respeitar os limites financeiros para evitar mais estresse.
A prática da gratidão pode ser uma ferramenta poderosa para mudar a forma como enxergamos o encerramento do ano. Reconhecer pequenas conquistas, valorizar aprendizados e focar nas coisas boas que aconteceram, por menores que pareçam, pode transformar o período em algo mais leve. Essa mudança de perspectiva nos permite encarar o futuro com mais otimismo e propósito. A vida, afinal, é feita de altos e baixos, e até os momentos desafiadores oferecem lições importantes.
Se, ainda assim, os sentimentos de tristeza, angústia ou desmotivação persistirem, a ajuda de um profissional pode ser fundamental. Psicólogos e psiquiatras são aliados importantes para quem sente que a Dezembrite deixou de ser um estado passageiro para se tornar uma dificuldade mais profunda. Reconhecer a necessidade de ajuda não é sinal de fraqueza, mas de autocuidado e comprometimento com o próprio bem-estar.
O fim do ano também pode ser um momento de renovação, caso seja encarado como uma oportunidade de reflexão e recomeço. Tudo depende da lente com a qual escolhemos olhar nossa trajetória. Em vez de focar no que faltou, por que não valorizar o que foi conquistado? Cada aprendizado, seja ele fruto de uma vitória ou de um desafio, nos torna mais fortes e preparados para o novo ciclo que está por vir.
Por Adriane Maragno
professora de Psicologia da UniCesumar de Curitiba
Artigo de opinião



