Como a Reforma Tributária Está Redefinindo Custos e Estratégias Empresariais no Brasil

A unificação dos tributos sobre consumo promete simplificar o sistema, mas exige adaptação estratégica e operacional das empresas para aproveitar suas vantagens.

Estudos da OCDE indicam que a complexidade do sistema tributário brasileiro é um dos principais entraves à produtividade. A entidade aponta que distorções provocadas por regras múltiplas, regimes distintos e cumulatividade reduzem o potencial de crescimento do país ao encarecer investimentos e gerar ineficiências na cadeia produtiva.

A reforma tributária aprovada em 2023, agora em fase de regulamentação, busca corrigir parte dessas distorções ao unificar tributos sobre consumo e criar regras mais homogêneas entre setores. A mudança vai alterar profundamente como empresas calculam custos, organizam operações e planejam expansão.

A Emenda Constitucional 132 estabelece a criação da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) e do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), substituindo IPI, PIS, Cofins, ICMS e ISS. O novo modelo prevê créditos amplos, incidência no destino e uniformização das regras entre estados e municípios. A adoção de um sistema não cumulativo tende a reduzir disputas jurídicas e melhorar a alocação de investimentos ao eliminar efeitos em cascata que distorcem preços relativos.

Esse redesenho tributário exigirá mudanças estruturais. O empresário precisará revisar margens, contratos e composição de custos. A lógica de créditos muda completamente, e setores que hoje se organizam para evitar acúmulo tributário terão novos incentivos. Não se trata apenas de substituir códigos de imposto, mas de reorganizar a estratégia. Empresas com operações em vários estados devem observar, desde já, simulações sobre a tributação no destino e possíveis redistribuições de carga.

O Tesouro Nacional projeta que a transição ocorrerá gradualmente até 2033, em um período em que coexistirão tributos antigos e novos, o que demandará sistemas capazes de operar simultaneamente dois modelos. Esse será um dos pontos mais sensíveis da adaptação empresarial. Setores intensivos em serviços devem monitorar com atenção a definição das alíquotas de referência, que ainda dependem de regulamentação final.

A mudança também afeta decisões de investimento no médio prazo. Cadeias produtivas longas e fragmentadas, comuns na indústria brasileira, tendem a ganhar eficiência quando a cumulatividade é eliminada. Isso pode estimular reorganizações logísticas, revisão de centros de distribuição e reestruturações de operações regionais. Modelos que antes eram montados para aproveitar benefícios locais precisarão ser reavaliados. Como o imposto será cobrado no destino, a escolha de onde instalar unidades produtivas passará a considerar outros fatores, como mão de obra, infraestrutura e proximidade de mercados.

Empresas que atuam internacionalmente também precisam acompanhar a interação das novas regras com regimes especiais e com acordos internacionais. A fase de regulamentação será decisiva para definir exceções, tratamentos diferenciados por setor e critérios de compensação de créditos.

A reforma é vista como uma oportunidade de reduzir insegurança jurídica e alinhar o país a modelos adotados por economias desenvolvidas. Ainda assim, o ganho não será automático. A simplificação só trará resultados práticos para quem se preparar desde agora. É essencial mapear impactos, adaptar sistemas de gestão e revisar processos internos. A transição exige planejamento e decisão estratégica, não reação de última hora.

A expectativa é que o novo sistema reduza volatilidade tributária e contribua para um ambiente de negócios mais previsível. Para empresas de diferentes portes, o desafio está em compreender como as novas regras podem influenciar operações, competitividade e oportunidades de expansão. A reforma representa uma reorganização estrutural. Quem conseguir interpretar o cenário com antecedência terá vantagem competitiva quando as novas etapas forem implementadas.

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Por Fernanda Spanner

CEO da Spanner Consulting Group, especialista em planejamento tributário, International Business Advisor com mais de 20 anos de experiência, Enrolled Agent licenciada pelo IRS (credencial mais alta concedida pela Receita Federal americana)

Artigo de opinião

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