Nova NR-1 e o risco do modelo de comissão nos salões de beleza
Especialista Rafaela de la Lastra alerta: Lei do Salão-Parceiro, comissão e ambiente de alta pressão podem virar bomba trabalhista e psicossocial a partir de 2026
A inclusão da saúde mental como parte da gestão obrigatória de riscos — trazida pela atualização da NR-1 — entrou em vigor em maio de 2025 em caráter educativo. Mas o tempo está correndo: a etapa fiscalizatória e punitiva começa em 26 de maio de 2026.
No setor da beleza, essa virada coloca luz sobre um ponto sensível: salões que continuam funcionando no modelo de comissão podem estar, sem perceber, abrindo caminho para problemas trabalhistas e psicossociais de grandes proporções.
Autonomia no papel, pressão na prática
A Lei do Salão-Parceiro estabelece que os profissionais atuam como autônomos, com contratos homologados em sindicato — o que, em tese, afastaria a obrigação de adotar programas de prevenção de riscos psicossociais aplicáveis a funcionários regidos pela CLT.
Mas o dia a dia de muitos salões está longe dessa autonomia ideal. E é justamente nessa distância entre teoria e prática que mora o perigo.
A especialista Rafaela de la Lastra, referência em gestão de salões, explica que o modelo de comissão cria uma dinâmica de dependência:
– o salão atrai clientes;
– centraliza recebimentos;
– e repassa ao profissional apenas um percentual.
Como qualquer oscilação na presença ou na produtividade derruba os resultados, muitos donos acabam impondo controle de horários, exigência de permanência e metas rígidas — elementos típicos de relação de emprego, mesmo quando o contrato diz o contrário.
O resultado? Um ambiente de pressão constante, em desacordo com a autonomia prometida.
Quando a NR-1 entra no jogo, tudo muda
Em ações trabalhistas, profissionais que conseguem comprovar vínculo deixam de discutir apenas remuneração ou férias não pagas.
Agora, com a nova NR-1, todo o histórico emocional, comportamental e organizacional vivido no salão também passa a ser analisado como possível fator de risco à saúde.
Isso significa que conflitos recorrentes, cobranças excessivas, clima de competição, estresse e desgastes cotidianos podem se transformar em passivo jurídico e financeiro ampliado, porque deixam de ser apenas “problemas de convivência” e passam a compor o conjunto de riscos psicossociais previstos na norma.
Por que o modelo de comissão se tornou insustentável
Segundo Rafaela, a comissão cria um ecossistema de desgaste permanente:
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disputa por clientes,
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desconfianças nos repasses,
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métricas implícitas que geram pressão,
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atritos diários que recaem sobre o proprietário,
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clima emocional instável,
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e autonomia apenas aparente.
A soma de tudo isso, afirma a especialista, coloca o salão em rota de colisão com a legislação atual e com as exigências de gestão de riscos — especialmente agora que a saúde mental entrou oficialmente no mapa das obrigações.
A alternativa: locação integrativa e autonomia real
Para romper esse ciclo, Rafaela aponta um caminho: a locação integrativa de estações de trabalho.
Nesse modelo, o profissional aluga a cadeira, maca ou bancada mediante pagamento fixo e atua com autonomia verdadeira, sem repasse, sem comissão, sem controle de jornada e sem cobranças que caracterizam subordinação.
Com isso:
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o risco de vínculo empregatício cai drasticamente;
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a tensão diária diminui;
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o ambiente fica mais saudável;
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e o salão se afasta das vulnerabilidades criadas pela nova NR-1.
A mudança, segundo Rafaela, é menos sobre legislação e mais sobre sustentabilidade: o setor da beleza precisa abandonar práticas antigas e adotar um modelo compatível com a realidade jurídica e psicossocial de 2026 — e dos próximos anos.



