O Déficit Masculino no Brasil em 2025: Uma Análise Profunda do “Mapa da Fome” Amoroso

Por que a escassez de homens disponíveis para relacionamentos estáveis entre 30 e 60 anos é um fenômeno complexo, resultado de fatores sociais, econômicos e demográficos.

A pergunta ecoa em rodas de conversa, memes e até em pesquisas acadêmicas: “Está faltando homem no Brasil?” – eu, como pesquisadora de gênero e políticas públicas, me instiguei a buscar essa resposta. Os dados em 2025 ajudam a esclarecer essa questão, revelando que a resposta não é tão simples quanto parece.

Segundo o IBGE, o Brasil tem cerca de 212,8 milhões de habitantes, sendo 51,1% mulheres e 48,9% homens (PNAD Contínua, 2025). Isso significa aproximadamente 108,7 milhões de mulheres contra 104 milhões de homens. À primeira vista, a diferença não parece dramática. Mas quando recortamos a faixa etária de 30 a 60 anos, onde se concentram as relações estáveis, a balança começa a pesar: são 55,8 milhões de mulheres contra 41,6 milhões de homens nessa faixa.

Nem todos esses homens estão “no mercado”. Dados do Atlas da Violência 2025 mostram que 91% das vítimas de homicídio são homens, e estimativas indicam que cerca de 13,5 mil homens entre 30 e 60 anos foram assassinados em um único ano. Some-se a isso os 9 mil mortos em acidentes de trânsito (dados do Observatório Nacional de Segurança Viária) e temos uma perda significativa. Além disso, 855 mil homens estão presos (Sisdepen, 2024), sendo a maioria nessa faixa etária, e cerca de 135 mil vivem em situação de rua (Censo População de Rua, 2023).

E não para por aí: estimativas indicam que 6% dos homens se identificam como gays (Pesquisa Nacional sobre Diversidade Sexual, 2022), e 60% são casados (IBGE, Estatísticas do Registro Civil). Quando somamos tudo, restam cerca de 13,4 milhões de homens solteiros, heterossexuais, vivos e não institucionalizados.

Já quando consideramos fatores contemporâneos adicionais, a escassez se torna ainda mais evidente: segundo Relatório Consular do Itamaraty, a migração internacional levou em 2023 cerca de 1,2 milhão de homens a saírem do país em busca de emprego; já o Ministério da Saúde (2023 e 2024) declara que condições de saúde incapacitantes e internações prolongadas somam quase 1 milhão de brasileiros e aqueles que não pretendem se relacionar com mulheres (celibatários, trans e assexuais) são cerca de 1,5% da população masculina; sem contar missões e situações específicas que “retiram do mercado” outros 50 mil. Com isso, o número de homens disponíveis cai para aproximadamente 10,1 milhões, frente às 22,3 milhões de mulheres solteiras. A proporção final é de apenas 4 a 5 homens para cada 10 mulheres, reforçando o chamado “mapa da fome amoroso” e mostrando como múltiplos fatores sociais, econômicos e demográficos moldam as possibilidades de relacionamento no Brasil contemporâneo.

O que isso significa?
O “mapa da fome amoroso” não é mito: há um considerável déficit de homens disponíveis para relacionamentos heterossexuais estáveis entre 30 e 60 anos, em 2025. Mas essa escassez não é apenas demográfica — é também social e econômica. A violência letal, a desigualdade de gênero, a seletividade penal e o desemprego afetam desproporcionalmente homens negros e pobres, enquanto as mulheres enfrentam desafios como dupla jornada e desigualdade salarial, o que as torna incapazes de “equilibrar” essa balança.

Não se trata apenas de números, mas de contextos. A falta de homens disponíveis é resultado de fatores estruturais: mortalidade masculina elevada, encarceramento em massa, vulnerabilidade social e padrões culturais. Em um país onde as mulheres já enfrentam barreiras econômicas e sociais, essa equação reforça um cenário de escolhas limitadas na vida amorosa — e expõem a necessidade de um maior empenho e eficiência das políticas públicas na real promoção de segurança e igualdade social. Afinal para “estar disponível” é preciso antes ser cidadão: um homem vivo, livre, alimentado, com moradia, emprego e saúde.

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Por Relly Amaral Ribeiro

assistente social e professora dos cursos de pós-graduação na área de Serviço Social e Políticas Sociais do Centro Universitário Internacional Uninter

Artigo de opinião

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