A pressão sobre mães nas redes sociais: um olhar sobre julgamentos e saúde emocional
Como as expectativas históricas e sociais perpetuam cobranças injustas e afetam o bem-estar das mulheres na maternidade
A rotina de influenciadoras que são mães passou a fazer parte do consumo diário nas redes sociais. Quando dividem escolhas do dia a dia, essas decisões rapidamente passam a ser avaliadas por milhares de pessoas. A influenciadora digital Lorena Maria foi alvo de críticas da irmã de MC Daniel por causa de uma decisão relacionada à amamentação. Virgínia Fonseca também costuma ser cobrada quando viaja, descansa ou altera a rotina dos filhos.
Outros episódios seguem a mesma dinâmica. Viih Tube recebeu críticas ao relatar cansaço e mostrar como divide a rotina com babás. Ary Mirelle, esposa de João Gomes, enfrentou ataques após decisões ligadas ao cuidado com o filho mais velho e ao próprio lazer. Em todos esses casos, escolhas maternas acabam ganhando repercussão pública.
Segundo a psicóloga perinatal Profª. Dra. Rafaela Schiavo, do Instituto MaterOnline, essa reação não acontece porque essas mulheres compartilham suas vidas, mas porque existe uma expectativa histórica sobre como a maternidade “deveria ser”.
“As mulheres carregam uma cobrança que não é de hoje. Ela vem de uma maternidade compulsória construída historicamente. A ideia de que a mãe deve dar conta de tudo sozinha foi sendo passada de geração em geração”, explica.
Rafaela destaca que esse modelo foi reforçado ao longo dos séculos e ainda influencia o que se espera do comportamento materno, inclusive nas redes sociais. Ela também observa que a cobrança não se distribui de forma igual entre homens e mulheres.
“Quando um homem viaja, trabalha mais ou sai para descansar, isso é visto como normal. Quando uma mulher faz o mesmo, surge a crítica. É uma cobrança que recai sobre elas desde muito cedo”, diz.
Essa diferença, segundo a psicóloga, é reflexo de um imaginário social que coloca a mãe como responsável central pelos filhos, enquanto o pai é visto como provedor. A pressão constante influencia diretamente a autoestima e o bem-estar emocional das mulheres.
“Mais da metade das mulheres vive problemas de saúde mental por causa dessa cobrança. É exaustivo. Elas precisam dar conta do trabalho, da casa, dos filhos, do corpo, da alimentação. Quando não conseguem corresponder ao que acreditam que deveriam fazer, surge a culpa”, afirma.
Ela reforça que, durante o período perinatal, essa vulnerabilidade é ainda maior, e que críticas sobre “descansar demais”, “sair sem os filhos” ou “dividir tarefas” afeta profundamente quem já está sobrecarregada.
Ao comentar casos em que mães são criticadas por pausas, viagens ou momentos de lazer, como o que envolveu Virgínia Fonseca, Rafaela destaca o quanto esses intervalos são essenciais para a saúde mental.
“Homens têm mais abertura para o lazer. Para as mulheres, cada espaço de descanso funciona como fator de proteção. A pressão da maternidade é enorme, e elas têm pouca margem para respirar”, explica.
Segundo ela, normalizar o descanso materno é parte do cuidado emocional e não deveria ser tratado como negligência e destaca, ainda, que a culpa materna também é alimentada por expectativas irreais.
“A culpa materna não nasce com a mulher. Ela é construída socialmente. Quando a mãe sente que não está alcançando esse modelo idealizado, ela se frustra. E esse modelo não é real”.
Esse processo, diz Rafaela, faz com que críticas vindas das redes sociais, mesmo de desconhecidos, tenham impacto muito maior do que deveriam. A psicóloga reforça que o apoio especializado é importante para ajudar mães a diferenciarem seus desejos das expectativas externas.
“A maternidade não pode ser guiada pela opinião das redes sociais. A mulher precisa sustentar suas decisões a partir da história dela, não do julgamento de terceiros”, diz. Ela lembra que o acompanhamento psicológico perinatal é garantido pelo SUS pela Lei 14.721 e pode oferecer suporte individualizado nesse período.
Como mães podem lidar com críticas e palpites sem adoecer:
– Definir limites sobre o que será compartilhado nas redes sociais.
– Separar opinião alheia de desejo próprio.
– Buscar apoio psicológico perinatal, disponível pelo SUS e em planos de saúde.
– Observar sinais de sobrecarga, como irritabilidade, insônia e tristeza persistente.
– Preservar momentos de descanso. Autocuidado não é abandono.
– Entender como expectativas de familiares – mãe, sogra ou parentes – influenciam decisões e alimentam a dificuldade de dizer “não”.
– Identificar crenças internalizadas, como a ideia da “boa mãe perfeita”, para reduzir a culpa que a sociedade impõe.
– Buscar informações de fontes confiáveis sobre rotina e desenvolvimento infantil para não se pautar por palpites de terceiros.
Por Taís Gomes
jornalista e assessora de imprensa
Artigo de opinião



