Inadimplência recorde desafia factoring e securitizadoras a inovar no controle de risco
Com juros altos e aumento de empresas inadimplentes, o setor aposta em tecnologia, garantias jurídicas e educação financeira para minimizar perdas
Com a taxa Selic mantida em 15% pelo Comitê de Política Monetária (Copom) em novembro de 2025 e o recorde histórico de 8 milhões de empresas inadimplentes no país, alta de 16% em relação a 2024 segundo a Serasa Experian, o mercado de factoring e securitização enfrenta uma onda de atrasos e inadimplência nas operações de recebíveis. O cenário, marcado pela desaceleração da economia e pela pressão sobre o caixa das pequenas e médias empresas, tem levado o setor a adotar estratégias mais sofisticadas de análise de crédito, garantias jurídicas e negociação de dívidas.
A Associação Nacional de Fomento Comercial (Anfac) confirma o aumento do risco de crédito e indica que as operações de fomento mercantil cresceram em volume, mas com margens menores. As empresas têm priorizado clientes com garantias reais e monitoramento de performance financeira contínua.
O desafio está em equilibrar segurança e competitividade. As factorings e securitizadoras vivem um momento de revisão profunda. Elas precisam combinar tecnologia e estratégias jurídicas para reduzir perdas. A recuperação de crédito deixou de ser apenas cobrança: hoje envolve análise de perfil, revisão contratual e execução eficiente das garantias.
O uso de ferramentas de inteligência de dados e scoring comportamental tornou-se prática comum. Levantamentos do Banco Central e da Serasa Experian apontam que o uso de automação e big data em processos de concessão e cobrança cresceu mais de 25% nos últimos dois anos entre instituições não bancárias. Essas soluções ajudam a identificar devedores reincidentes e antecipar sinais de inadimplência antes que o crédito se deteriore.
As garantias fiduciárias e os instrumentos extrajudiciais, como protesto eletrônico e execução de recebíveis, têm ganhado espaço por sua agilidade. A demora processual ainda é um gargalo, mas o avanço de mecanismos digitais e a integração de dados entre cartórios, bancos e tribunais vêm tornando a recuperação mais efetiva. A empresa que se prepara juridicamente desde a originação da operação tem menos chance de perda total.
Além da tecnologia e do respaldo jurídico, educar o cliente passou a ser parte das políticas de mitigação de risco. Programas internos de orientação financeira, renegociação preventiva e simulações de fluxo de caixa são práticas que vêm se disseminando entre as companhias do setor.
O horizonte é de cautela e profissionalização. A combinação de juros altos, retração do consumo e crédito mais seletivo tende a manter a inadimplência em patamar elevado nos próximos trimestres.
Esse momento é de maturidade para o mercado de recebíveis. As empresas que entenderem que gestão de risco é parte do negócio, e não um obstáculo a ele, sairão fortalecidas dessa fase.
Por Patricia Maia
Sócia do Barbosa Maia Advogados, especialista em recuperação de ativos e estruturação de operações financeiras para o mercado de recebíveis, com mais de 19 anos de experiência, atua como business strategist em operações de factoring, securitizadoras e Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDCs), além de consultora em reestruturação empresarial, garantias imobiliárias e gestão de risco financeiro.
Artigo de opinião



