Novembro Azul e a Masculinidade que Adoece: Por que Homens Evitam Pedir Ajuda?
A resistência masculina em admitir vulnerabilidade compromete a saúde e a prevenção, e a psicanálise aponta caminhos para desconstruir estereótipos e promover o autocuidado.
Os homens ainda têm dificuldade em admitir vulnerabilidade e buscar ajuda, seja para questões físicas ou psicológicas. Essa resistência se reflete em indicadores importantes: segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), eles representam cerca de 76% dos casos de suicídio no Brasil; têm expectativa de vida de 73,1 anos, enquanto a feminina chega a 79,7 anos; e mais de 60% só procuram atendimento médico quando a dor se torna insuportável.
No Novembro Azul, mês dedicado à conscientização sobre a saúde do homem, essa desatenção fica ainda mais evidente, e a psicanálise pode ajudar a romper esses padrões masculinos.
A maioria dos homens cresceu em um ambiente onde expressar emoções não fazia parte do repertório permitido. Muitos não são educados para lidar e cuidar das emoções. Já houve um tempo em que essa condição foi mais acentuada, mas ainda persiste, no inconsciente masculino, o quanto eles têm o papel de provedores: custear, lidar com as questões materiais, financeiras.
Esse papel simbólico de provedor impede muitos homens de reconhecer suas próprias necessidades. Eles acabam adoecendo por tentar equilibrar tantas coisas, tantos pratos, por querer dar conta de tudo. Mas eles também precisam ser olhados.
A psicanálise tem papel importante na desconstrução desses ideais. Ela entende que masculinidade é um lugar simbólico. É fundamental ouvir esse sujeito e desconstruir esses estereótipos, esses papéis de que eles precisam ser fortes, ser invulneráveis.
Romper com os ideais de performance extrema e sucesso a qualquer custo é parte essencial do processo terapêutico. É preciso ajudar a reconhecer outras formas de ser homem, além dos ideais de desempenho e sucesso a qualquer custo. Essa pressão por força pode vir de questões narcísicas e das demandas sociais. A escuta qualificada ajuda a combater males emocionais silenciosos e fortalece o homem a desenvolver práticas de autocuidado.
Os tabus em torno da saúde masculina também aparecem quando o assunto é prevenção, especialmente no Novembro Azul. Ainda há muita resistência em relação ao câncer de próstata, sustentada por estigmas antigos.
Ainda existem questões com relação ao câncer de próstata, a tudo que ele representa, ao preconceito em se realizar o exame e, sobretudo, às piadas e chistes que aparecem em torno dessa condição. Mas a medicina avançou e os exames se tornaram menos invasivos, o que derruba grande parte dos medos masculinos.
O Ministério da Saúde recomenda que os homens procurem um médico urologista a partir dos 45 anos, em caso de histórico familiar, ou após os 50 anos. A decisão de realizar exames de rastreamento é individualizada e deve ser tomada em conjunto com o profissional de saúde, levando em conta fatores de risco e o histórico pessoal de cada paciente.
Por Flávia Anjos
psicanalista da SOW Saúde Integral
Artigo de opinião



