Como equilibrar metas e bem-estar no último trimestre do ano
Estratégias para manter alta performance sem comprometer a saúde emocional das equipes no período mais desafiador do calendário corporativo
Com a aproximação do fim do ano, muitas indústrias e empresas começam a acelerar metas, campanhas e entregas estratégicas. Esse movimento natural do quarto trimestre pode desencadear picos de estresse emocional e desgaste silencioso para equipes pouco preparadas. Para a psicóloga e especialista em saúde mental corporativa Jéssica Palin, promover alta performance não precisa vir às custas da saúde mental dos colaboradores. “É possível atingir resultados com planejamento emocional e limites bem definidos”, afirma.
Dados recentes revelam a urgência de atenção ao tema. O Brasil registrou quase meio milhão de afastamentos por transtornos mentais em 2024, o maior número da década, um aumento de 68% em relação ao ano anterior, segundo o Ministério da Previdência Social.
No campo específico da síndrome de burnout, classificada pela OMS como doença ocupacional, os casos notificados cresceram de forma progressiva. Entre 2014 e 2024 foram contabilizados 1.458 registros no país, com pico de notificações em 2024 (28,40% do total). Estudos apontam que cerca de 30% dos trabalhadores brasileiros relatam sintomas compatíveis com burnout.
Planejamento emocional como estratégia para evitar vazamentos
Para Jéssica Palin, o primeiro passo para evitar que a pressão do trimestre final destrua o equilíbrio da equipe é incluir o emocional no planejamento. Segundo ela, “quando você monta metas levando em conta os limites emocionais, evita que o time se desgaste antes de dezembro”.
O planejamento emocional passa por estabelecer prioridades claras, dividir entregas em etapas mais gerenciáveis, prever margens para imprevistos e incorporar pausas deliberadas no fluxo de trabalho. A especialista explica que há diferença entre fases naturalmente intensas e o caos constante. “Existem períodos em que o ritmo precisa ser acelerado, especialmente em fases de expansão ou metas críticas, e isso é normal. O problema é viver sem planejamento, apagando incêndios e tratando tudo como urgência. Esse ambiente, sim, é um terreno fértil para o burnout”, pontua.
Empresas que adotaram programas estruturados de saúde mental também relataram ganhos práticos. Em levantamentos internos e relatórios do setor, companhias que investem nessas práticas observam até 30% de queda no absenteísmo, além de melhor engajamento e retenção de talentos.
Prevenir burnout e manter o engajamento até a linha de chegada
Durante o trimestre mais intenso, a chave é adotar práticas que equilibrem exigência e suporte humano. Jéssica Palin recomenda:
– Rituais de encerramento em cada ciclo de tarefa, para que os colaboradores façam o fechamento emocional do que foi entregue.
– Pausas estruturadas e estímulo ao distanciamento digital dentro da jornada, com momentos claros de desconexão.
– Revisão periódica de metas, adaptando desafios conforme o ritmo real da equipe.
– Comunicação transparente sobre prazos, recursos e expectativas, para evitar surpresas abruptas e frustrações cumulativas.
– Monitoramento emocional contínuo, com check-ins, autoavaliações e feedbacks regulares para identificar sinais de desgaste antes que se transformem em crise.
Para Jéssica, lideranças têm papel central nesse processo, o gestor deve estar atento ao clima emocional e agir preventivamente. Sua sensibilidade pode barrar o esgotamento antes que ele se torne visível.
Riscos de negligenciar o emocional no ápice do ano
Ignorar o fator emocional no quarto trimestre pode gerar consequências duradouras. O desgaste acumulado tende a se manifestar em absenteísmo, queda da produtividade, rotatividade inesperada e presença improdutiva (presenteísmo). Em ambientes de crise emocional, colaboradores permanecem fisicamente, mas operam com foco reduzido, fenômeno que, em muitos casos, gera perdas ocultas para as empresas.
Além disso, a deterioração do clima organizacional provoca fissuras de confiança que demoram a ser reparadas. O sentimento de que “ninguém se importa” pode corroer vínculos internos, dificultar a colaboração e gerar atrito nas entregas conjuntas.
No universo industrial e empresarial, onde prazos, qualidade e produtividade são exigências constantes, a abordagem emocional não é luxo, trata-se de um diferencial competitivo. Ao promover saúde mental e equilíbrio no fechamento de ciclo, as empresas fortalecem não apenas resultados imediatos, mas também a coesão e a sustentabilidade das equipes para o próximo ano.
Por Jéssica Palin Martins
Advogada, psicóloga e especialista em saúde mental no ambiente corporativo; graduada em Direito pela Universidade Paulista (UNIP) e em Psicologia pelo Centro Universitário do Norte Paulista (UNORP); mestre em Direito pelo Instituto Brasileiro de Estudos Tributários (IBET); especialista em Intervenção Familiar Sistêmica pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP)
Artigo de opinião



