Novembro Azul: O Papel Estratégico do RH na Promoção da Saúde Masculina Contínua

Como o setor de Recursos Humanos pode transformar a cultura organizacional e quebrar tabus sobre o autocuidado masculino

Falar sobre saúde masculina ainda é, para muitos homens, um tema delicado, cercado de tabus, estigmas e silêncios. Apesar das campanhas do Novembro Azul, o cuidado contínuo e preventivo com a saúde física e emocional dos homens ainda é negligenciado, tanto em nível individual quanto institucional.

Segundo o Ministério da Saúde (2024), os homens vivem, em média, 7 anos a menos que as mulheres — em grande parte por procurarem menos os serviços de saúde e realizarem menos exames preventivos.

No ambiente corporativo, esse cenário se reflete em baixa adesão a programas de saúde, pouca procura por apoio psicológico e dificuldade em expressar vulnerabilidade. Muitos ainda associam o autocuidado à fraqueza ou à falta de foco profissional, perpetuando um ciclo de silêncio que custa caro — em adoecimento, absenteísmo e perda de produtividade.

A resistência masculina aos cuidados com a própria saúde não é casual, ela tem raízes culturais profundas. Desde cedo, meninos aprendem que “homem não chora”, “aguenta firme”, “não precisa de ajuda”. Essa construção de masculinidade baseada na força e no autocontrole impede que muitos homens busquem acompanhamento médico ou psicológico.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Urologia, em artigo produzido para o portal G1, apenas 46% dos homens acima de 40 anos só vão ao médico quando sentem algo.

Enfrentar esse tabu, portanto, não se resume a disseminar informação: requer empatia, escuta e transformação de comportamentos dentro das organizações.

Fatores que alimentam o tabu:
– Medo do diagnóstico ou do estigma de “fraqueza”
– Falta de tempo e priorização do trabalho sobre a saúde
– Ausência de espaços de diálogo sobre vulnerabilidade masculina
– Barreiras culturais e de gênero que reforçam o silêncio

A mudança começa quando as empresas reconhecem que o cuidado não é apenas uma responsabilidade individual, mas um valor organizacional.

O setor de Recursos Humanos tem um papel estratégico para romper essas barreiras e construir uma cultura de cuidado permanente. Mais do que promover campanhas pontuais, o RH pode atuar como protagonista de uma mudança cultural, integrando a saúde masculina aos programas de bem-estar, diversidade e qualidade de vida no trabalho.

Boas práticas que inspiram resultados:

1. Comunicação interna humanizada
Campanhas que falem com naturalidade e empatia sobre saúde física e emocional, evitando discursos moralizantes. Mostrar que cuidar de si é um ato de responsabilidade, não de fragilidade.

2. Espaços seguros de diálogo
Rodas de conversa, grupos de escuta ou cafés temáticos sobre saúde masculina e emocional. O objetivo é oferecer ambientes de confiança, onde os colaboradores possam compartilhar dúvidas, experiências e receios sem julgamento.

3. Políticas de incentivo à prevenção
Parcerias com clínicas para realização de check-ups, flexibilização de horários para consultas médicas e comunicação ativa sobre exames preventivos. Pequenas ações logísticas demonstram apoio real ao cuidado.

4. Inclusão nos programas de diversidade e bem-estar
A saúde masculina deve fazer parte da pauta de diversidade e inclusão, ao lado de temas como saúde da mulher, parentalidade e saúde mental. Assim, reforça-se que cada colaborador é parte de um todo que importa.

5. Formação de lideranças conscientes
Treinar gestores para reconhecer sinais de adoecimento emocional e abordar o tema com sensibilidade. Quando líderes falam abertamente sobre autocuidado e vulnerabilidade, ajudam a quebrar paradigmas e inspiram novos comportamentos.

De acordo com o Our World in Data (2025), os índices de suicídio entre homens são quatro vezes maiores do que entre mulheres. Essa estatística mostra que, se o cuidado emocional não for incluído nas estratégias de prevenção, o trabalho do RH estará incompleto.

A Fiocruz (2020) reforça que as políticas de saúde mental no trabalho ainda não contemplam de forma adequada as especificidades do público masculino, o que contribui para o agravamento de casos de depressão, abuso de substâncias e isolamento social.

O RH pode ser a ponte entre colaboradores e suporte psicológico, promovendo:
– Escuta ativa e acolhimento humanizado em todos os níveis;
– Canais de apoio psicológico ou convênios com terapeutas e psicólogos organizacionais;
– Campanhas educativas sobre estresse, ansiedade e equilíbrio entre vida pessoal e profissional;
– Valorização da vulnerabilidade como expressão de coragem e maturidade emocional.

Ao integrar a saúde mental masculina à estratégia de bem-estar corporativo, o RH não apenas previne adoecimentos, mas fortalece a cultura de pertencimento e empatia.

Uma cultura de cuidado é uma cultura de pertencimento, quebrar o tabu sobre a saúde masculina é uma tarefa coletiva, e o RH é o principal agente dessa transformação dentro das organizações. Quando o cuidado passa a ser um valor corporativo, e não uma ação pontual, a empresa cria um ambiente em que o autocuidado é visto como ato de coragem, não de fraqueza.

Empresas que investem em saúde integral colhem benefícios que vão além dos indicadores clínicos: engajamento, produtividade, retenção de talentos e sentido de propósito. Promover a saúde masculina é, portanto, promover uma cultura de pertencimento, na qual cada colaborador é convidado a cuidar de si e dos outros — dentro e fora do trabalho.

A

Por André Martin Marquez Ventura

Psicólogo na Vetor Editora, mestrando em Psicologia Clínica e da Saúde, especialista em gestão de empresas, 15 anos de experiência em gestão de equipes

Artigo de opinião

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