Inteligência Artificial e o Futuro Humano da Economia Criativa
Como a IA pode potencializar a criatividade brasileira de forma ética, inclusiva e centrada no criador
Vivemos um momento decisivo: a inteligência artificial, longe de ser inimiga dos criadores de conteúdo, já se mostra uma aliada estratégica para a economia criativa. Ao ampliar produtividade, escala e inteligência de dados, ela permite que talentos autorais monetizem melhor sua arte e operem com mais eficiência. O desafio, agora, é garantir que essa transformação seja ética, inclusiva e centrada no criador.
Pesquisas recentes mostram que o uso de IA generativa em fluxos criativos pode aumentar a produtividade de artistas e elevar a qualidade percebida por seus pares. Uma revisão científica apontou que, embora os modelos sejam capazes de produzir imagens, textos e músicas, a criatividade artificial ainda exige direção humana, especialmente para gerar inovação real.
Em experimentos internacionais com mais de 800 participantes, foi observado que a introdução de ideias da IA pode aumentar a diversidade cultural em processos coletivos, embora nem sempre eleve a originalidade individual. Há também alertas relevantes: em contextos como o design, o uso automático de sugestões visuais da IA pode induzir fixações criativas e limitar a originalidade se não houver consciência crítica.
No Brasil, o cenário é fértil. A economia criativa representa 3,6% do PIB, segundo levantamento da Firjan, e cresce acima da média nacional no emprego formal. Mais de 70% das empresas do país já adotaram algum tipo de inteligência artificial em 2024, frente a 55% no ano anterior. A capacidade brasileira de produção acadêmica também impressiona: o país publicou mais de 6.300 estudos sobre IA entre 2019 e 2023, entrando no ranking das 20 nações com maior volume científico na área.
Para que a IA seja, de fato, uma aliada da criatividade, é necessário garantir transparência na autoria, inclusão de diferentes culturas nos dados que treinam os modelos, formação crítica para quem cria e marcos regulatórios à altura da inovação. A ANPD já caminha nessa direção, ao incluir governança de IA e biometria em sua Agenda Regulatória 2025–2026, mas o ritmo das decisões precisa acompanhar a velocidade da tecnologia.
No entanto, mais do que debates técnicos, é preciso aproximar a IA das dores e desejos reais de quem vive da criatividade. Muitos criadores enfrentam instabilidade financeira, excesso de tarefas operacionais e dificuldade de mensurar seu próprio valor de mercado. É nesse ponto que soluções inteligentes podem fazer diferença prática, e rápida. A DUX, por exemplo, aplica inteligência artificial para analisar contratos e prever performance, permitindo que criadores antecipem seus recebíveis com mais segurança e autonomia. Tudo isso com validação humana e taxas justas, mantendo o criador no centro do processo decisório.
Além da antecipação financeira, o uso ético da IA pode ajudar criadores a precificar melhor seu trabalho, identificar padrões de consumo e otimizar entregas personalizadas para públicos diversos. Ao transformar dados em decisões, a tecnologia assume seu papel mais nobre: ampliar as possibilidades humanas, sem substituí-las.
Outro ponto-chave é o papel da IA na distribuição de conteúdo. Plataformas de streaming, redes sociais e marketplaces já utilizam algoritmos para definir o que aparece para quem, e com que frequência. Criadores que compreendem essas dinâmicas algorítmicas e adaptam sua produção sem abrir mão da autenticidade tendem a alcançar resultados mais consistentes. Nesse contexto, a IA não atua apenas como ferramenta de criação, mas também como mediadora de visibilidade, exigindo novos códigos de leitura crítica e estratégias autorais.
Vale lembrar que a IA, como toda ferramenta, reflete quem a utiliza. Se usada de forma concentradora e opaca, ela tende a reproduzir desigualdades e silenciar vozes periféricas. Por isso, cabe aos criadores exigir transparência sobre os dados usados nos modelos e participar ativamente das discussões sobre direitos autorais, remuneração e propriedade intelectual.
Na prática, essa participação já começa a acontecer. Coletivos artísticos, instituições de pesquisa e startups de impacto vêm articulando propostas para marcos legais mais justos, modelos de licenciamento ético e plataformas que remunerem adequadamente o uso de obras derivadas. A própria DUX tem se posicionado como ponte entre criadores e tecnologia, ajudando a transformar a inteligência artificial em ferramenta de inclusão financeira e de valorização autoral.
A revolução tecnológica não é apenas técnica, é cultural. E isso exige, além de inovação, responsabilidade. Iniciativas como formação de labs criativos com IA, editais públicos que incentivem uso ético de tecnologia e programas de capacitação para creators periféricos são caminhos promissores. A IA precisa ser democratizada desde a base, com ferramentas acessíveis e linguagem descomplicada. Criatividade não pode ser privilégio de quem domina código.
A inteligência artificial não precisa substituir ninguém. Quando usada com consciência e intencionalidade, ela amplia o campo de possibilidades da criação. O futuro da economia criativa será mais inteligente, e também mais humano, se os criadores forem os protagonistas dessa transformação.
Por João Pedro Novochadlo
CMO e cofundador da DUX, fintech brasileira dedicada à economia criativa; Mestre em Empreendedorismo Social pela Universidade de Southern California; especialista em tecnologia com foco em impacto social; premiado quatro vezes pelo BRICS nas categorias Future Maker e Young Innovator; ex-Head de Marketing da plataforma Sócios.com; ex-Diretor de Inovação, Marketing e Comunicação do Club Athletico Paranaense; fundador da startup de tecnologia assistiva Veever; consultor de tecnologia para a Agência Curitiba de Desenvolvimento e Inovação (Ag.cwb).
Artigo de opinião



