A profissionalização que está revolucionando os salões de beleza no Brasil
Como gestão estruturada, contratos claros e presença digital são essenciais para o crescimento sustentável do setor
O setor de beleza vive um momento de expansão acelerada e exige dos salões uma profissionalização cada vez maior para acompanhar a competitividade do mercado. Mesmo com um cenário econômico promissor, muitos estabelecimentos ainda operam de forma informal, sem processos estruturados, contratos claros ou gestão financeira adequada. Especialistas apontam que a falta de organização gera riscos jurídicos, perda de receita e dificuldade em manter equipes. Nesse contexto, cresce a necessidade de modelos de gestão mais modernos, divisão equilibrada de responsabilidades e presença digital estruturada, elementos que hoje são essenciais para garantir estabilidade, crescimento e relevância no setor.
O setor de beleza passa por uma fase de forte crescimento e exige cada vez mais organização interna para que os salões se mantenham competitivos. O mercado caminha para ultrapassar os 50 bilhões de dólares anuais, impulsionado pela expansão de serviços, aumento do consumo e entrada de novos profissionais no setor. Apesar desse cenário promissor, muitos salões ainda operam sem planejamento básico. Falhas comuns como ausência de registros formais, contratos frágeis ou verbais, tributos mal calculados e falta de controle financeiro continuam travando negócios que, na prática, têm potencial de crescimento. Na avaliação de consultores do setor, essa combinação de informalidade e improviso gera um efeito cascata: risco jurídico, perda de receita, dificuldade em reter profissionais e baixa capacidade de expansão.
Para entender esse movimento de mudança, a empresária Rafaela de la Lastra explica que a maior parte dos estabelecimentos ainda trabalha com estruturas herdadas de modelos antigos, que não acompanharam o ritmo do mercado atual. Ela afirma que muitos salões funcionam como empresas informais dentro de um segmento que se tornou altamente competitivo e que já demanda organização semelhante à de outras áreas de serviços. Segundo Rafaela, a ausência de processos claros faz com que donos e equipes gastem tempo apagando incêndios e não conseguem planejar o futuro. Em suas análises, ela resume o cenário: “A técnica traz clientes, mas é a gestão que mantém o salão de pé”.
Rafaela também aponta que a relação entre donos e profissionais mudou e precisa ser tratada com mais justiça, transparência e regras equilibradas. Ainda é comum encontrar salões que dependem exclusivamente de modelos de comissão cujas receitas variam mês a mês e criam atritos constantes entre gestão e equipe. A falta de contratos robustos e equilibrados abre espaço para dúvidas sobre responsabilidades, pagamentos e uso do espaço. Segundo ela, formatos mais claros, como contratos de locação integrativa de estação de trabalho ajustados ao perfil de cada salão, pequeno ou grande, ajudam a reduzir conflitos e permitem previsibilidade financeira para ambos os lados. Além disso, a consultora reforça a necessidade de dividir tarefas operacionais e administrativas. Quando tudo recai sobre o proprietário, os custos aumentam, as decisões ficam lentas e o ambiente se torna mais tenso.
Outro ponto essencial da profissionalização é a presença digital, que deixou de ser um diferencial e passou a ser parte do núcleo estrutural do negócio. A exposição nas redes sociais não se limita mais a mostrar resultados estéticos. Salões com crescimento consistente trabalham com agenda e banco de conteúdo, comunicação clara, padronização visual, estratégia de posicionamento e acompanhamento de resultados. Segundo especialistas, essa estratégia impacta diretamente retenção, captação e percepção de valor do cliente. A gestão digital bem feita também ajuda a proteger a construir de forma conjunta a marca do salão, em igual proporção e importância das marcas dos profissionais, de forma análoga a uma galeria de arte, representada pelo salão, com obras expostas como estações de trabalho, assinadas pelos profissionais locatários.
O processo de profissionalização e autonomia, no entanto, não acontece de forma automática. Ele exige mudança cultural, investimento inicial em metodologia de gestão, revisão de fluxos e responsabilidades internas e, sobretudo, disposição para abandonar práticas antigas que já não funcionam no atual ritmo do mercado. Consultores do setor afirmam que os salões que conseguem se atualizar ganham mais previsibilidade financeira, reduzem despesas e a rotatividade de profissionais, ampliam capacidade de atendimento e conseguem competir melhor em regiões consideradas saturadas. Já os que insistem em modelos informais ou por comissão tendem a enfrentar instabilidade financeira, dificuldades de retenção de profissionais e crescimento limitado, mesmo com boa demanda. O avanço da gestão profissional mostra que o futuro do setor será mais estruturado e com responsabilidades divididas entre donos e profissionais autônomos e que a organização e estratégia deixou de ser detalhe para se tornar requisito básico para quem quer permanecer relevante em um dos setores que mais crescem no Brasil.
Por Ester Salles
Artigo de opinião



