O desafio persistente do analfabetismo funcional no Brasil e a importância do bilinguismo na infância
Apesar da redução do analfabetismo absoluto, quase um terço dos adultos brasileiros enfrenta dificuldades para compreender e usar a leitura no dia a dia, enquanto o ensino bilíngue surge como uma estratégia para ampliar competências cognitivas e sociais.
Dados do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) do último censo, em 2022, apontam que a taxa de analfabetismo diminuiu, porém, o analfabetismo funcional permanece preocupante. Segundo o Inaf, o Brasil registrou uma queda significativa na taxa de analfabetismo absoluto, que se refere à incapacidade de ler e escrever um bilhete simples. Em 2022, essa taxa para pessoas com 15 anos ou mais foi de 7,0%, o que corresponde a 11,4 milhões de brasileiros, uma melhora em relação aos 9,6% registrados em 2010.
Paralelamente, o país enfrenta o desafio do analfabetismo funcional, que diz respeito à dificuldade de compreender e usar a leitura e a escrita para se desenvolver plenamente. Cerca de 29% da população adulta (entre 15 e 64 anos) é considerada analfabeta funcional, um patamar que se manteve estável nos últimos anos.
Esse dado indica que, mesmo sabendo decodificar palavras, uma parcela considerável de brasileiros tem dificuldade em interpretar textos longos, formulários complexos ou fazer cálculos matemáticos que exigem mais de uma operação. Em resumo, o país avançou no quesito ensinar a ler, mas ainda precisa ensinar a compreender e utilizar a leitura para as demandas da sociedade moderna.
A alfabetização é um pilar importante para o desenvolvimento humano e social, transcendendo a habilidade de ler e escrever e atuando como maneira de acessar conhecimento e se desenvolver como indivíduo.
É o primeiro passo para explorar um universo de informações e ideias, estimulando diretamente o desenvolvimento cognitivo, a criatividade e o pensamento crítico. Além disso, confere ao indivíduo autonomia e autoconfiança, capacitando-o a tomar decisões e a trilhar seu próprio caminho com segurança.
Além da alfabetização convencional, a alfabetização bilíngue em Português e Inglês, quando iniciada na infância, oferece vastos benefícios que vão além da simples habilidade de se comunicar em duas línguas. No aspecto cognitivo e neural, a exposição simultânea a dois sistemas linguísticos atua como um exercício cerebral.
O biletramento estimula o desenvolvimento da flexibilidade mental, aprimora as habilidades de pensamento crítico e a capacidade de resolver problemas, além de fortalecer atributos como a concentração e a memória. Aproveitando a maior plasticidade do cérebro infantil, este aprendizado precoce estabelece redes neurais mais complexas e eficientes, preparando a criança para o aprendizado futuro.
Além disso, o estudo de dois idiomas simultaneamente aprimora a consciência metalinguística, ou seja, a capacidade de refletir sobre a estrutura da linguagem. No contexto de oportunidades e desenvolvimento sociocultural, o domínio do Inglês, como língua global da ciência, tecnologia e comércio, proporciona acesso irrestrito ao conhecimento mundial e a recursos educacionais que são essenciais para o sucesso acadêmico e profissional.
Essa vantagem se traduz em maior competitividade profissional em um mercado de trabalho globalizado. Mais do que isso, o contato com uma cultura diferente desde cedo fomenta a empatia, o respeito à diversidade e a capacidade de interagir com diferentes grupos, auxiliando na formação de cidadãos globais mais conscientes e preparados para a pluralidade do mundo.
Por Karla Lavrador
diretora-pedagógica do Ensino Fundamental Anos Iniciais da Rede Alfa CEM Bilíngue
Artigo de opinião



