Recomeçar após a traição: é possível reconstruir a confiança e seguir em frente?
Entenda os desafios emocionais da infidelidade e descubra sinais e técnicas para superar a dor e reconstruir relacionamentos com consciência.
Traição tem solução?
A descoberta de uma traição costuma figurar entre os motivos mais citados para separações e divórcios em diversas culturas. Estudos apontam que o rompimento da fidelidade no relacionamento desencadeia não apenas a quebra da confiança, mas também um impacto profundo no plano psicológico e espiritual dos envolvidos.
Os efeitos vão além da dor momentânea: há relatos de baixa autoestima, retração social, dificuldade em confiar novamente e mudanças comportamentais significativas. Uma revisão recente mostrou que a infidelidade está fortemente associada a sintomas de depressão, ansiedade, diminuição da autoestima e até alterações na saúde física de longo prazo.
Além disso, a traição pode acordar feridas emocionais e crenças limitantes, que afetam a forma como a pessoa se vê e se relaciona no futuro. Segundo Roberson Dariel, do Instituto Unieb, especialista em orientação espiritual, “uma traição não marca apenas um fim, ela abre a porta para uma reconstrução que exige enfrentar a dor e reconstituir a própria identidade afetiva”.
Ele explica que, em seus atendimentos, percebeu que o ponto de virada está justamente na disposição de reconhecer o estrago interno, para então considerar o recomeço. “O impacto da traição reverbera no que a pessoa acredita sobre si, sobre o outro e sobre o amor, é uma ferida que envolve mente, corpo e espírito”, afirma Dariel.
Como decidir se devo perdoar e continuar o relacionamento?
Decidir perdoar e permanecer em uma relação após uma traição exige mais do que a simples intenção de reatar. Psicologicamente, a pessoa traída pode se ver imersa em um turbilhão de emoções: raiva, dor, sensação de inutilidade, insegurança para futuros vínculos.
Estudos indicam que a infidelidade não apenas provoca sofrimento imediato, mas pode gerar sintomas semelhantes aos de trauma, com pensamentos intrusivos, hipervigilância e perda de sentido. Por isso, é fundamental que a decisão se baseie na compreensão do que levou ao episódio e não apenas na esperança de volta ao “status anterior”.
Roberson Dariel comenta: “vejo muitos casais que retornam com a expectativa de que o tempo apague a ferida, mas a realidade é que perdão exige trabalho, consistência e reconstrução de confiança, e isso depende de ações concretas, não apenas palavras.”
Por fim, se a traição deixou sequelas profundas, como constante insegurança, reviver o episódio repetidamente, ou se o parceiro não mostrou mudança, então a decisão de seguir em frente sozinho pode ser mais saudável do que viver num “quase relacionamento”, cheio de dúvidas e probabilidade de nova dor.
Quais são os sinais de que vale a pena tentar reconstruir a confiança?
Segundo Roberson Dariel, com base em anos de atendimentos no Instituto Unieb, ele identificou alguns sinais claros de que o casal possui condições reais de reconstruir a confiança após uma traição. Sendo eles:
– O parceiro que traiu demonstrou arrependimento genuíno, transparência e disposição para reparar;
– Ambos reconhecem que existiam fragilidades ou falhas no relacionamento anterior e estão dispostos a enfrentá-las juntos;
– O traído se sente emocionalmente seguro para expressar suas dores e dúvidas, e o outro ouve sem se defender automaticamente;
– A comunicação se torna mais aberta e verdadeira, com diálogo sobre o que aconteceu e sobre os limites no futuro;
– Há um plano concreto com compromissos mútuos – não apenas “vamos tentar”, mas “vamos fazer isso juntos”.
Dariel afirma: “quando identificamos esses sinais, percebemos que não se trata apenas de voltar à rotina anterior, mas de construir algo novo, com consciência e respeito. A reconstrução da confiança exige presença, coragem e alterações reais no comportamento.”
Ele observa que, sem esses elementos, voltar pode ser retomar o passado problemático. “É essencial que o casal diga: ‘Não voltamos para onde éramos, mas vamos para onde precisamos estar’.”
Técnicas práticas para lidar com raiva e tristeza após a traição
Lidar com a carga emocional que a traição traz exige práticas concretas para administrar raiva, tristeza, insegurança e medo. Confira cinco técnicas específicas que Roberson Dariel recomenda em seus atendimentos no Instituto Unieb:
Técnica 1 – Escrita terapêutica
Registrar em diário os sentimentos logo após o evento, escrever cartas (mesmo que não sejam enviadas) para expressar o que está preso. “Escrever é dar forma à dor, quando a pessoa coloca no papel o que feriu, ela começa a libertar o que estava preso e pode ver com mais clareza o caminho à frente”, comenta Roberson Dariel.
Técnica 2 – Respiração consciente e meditação breve
Praticar exercícios de respiração guiada, meditação de 5 a 10 minutos diários para acalmar mente e corpo. “Quando o corpo está agitado pela raiva, a mente se perde. Um momento de pausa, com respiração calma, ajuda a recuperar o controle e a evitar reações impulsivas”, explica o Pai de Santo.
Técnica 3 – Escolher apoio de confiança
Falar com um orientador espiritual, terapeuta, psicólogo ou pessoa neutra que possa ouvir sem julgamento. “A raiva e a tristeza acumuladas fermentam em silêncio, dividir com alguém seguro é dar voz ao que dói e tornar possível o caminho do cuidado”, conta Roberson Dariel.
Técnica 4 – Definir limites claros
Determinar o que se aceita ou não na relação, estabelecer que o passado foi ferida e o futuro precisa de novas regras. O Pai de Santo comenta: “sem limites, a ferida se torna território livre para recaída. Definir com clareza o que mudou e o que não será mais tolerado é vital para a segurança emocional.”
Técnica 5 – Cuidar de si mesmo
Investir em atividades que tragam bem-estar – exercício físico, hobbies, convivência social, autocompaixão. Dariel orienta: “a pessoa traída muitas vezes se esquece de si mesma, focando apenas na dor. Voltar a cuidar da própria vida, redescobrir o que a faz bem, é parte do recomeço.”
Como conversar com meu parceiro sobre o que aconteceu?
Iniciar o diálogo após uma traição exige preparo e intenção de conduzir a conversa de modo construtivo. Primeiramente, é importante escolher o momento e o ambiente adequados, um local tranquilo, sem interrupções, onde ambos se sintam seguros para expressar sem pressa.
É recomendável que quem foi traído prepare previamente os pontos que deseja abordar, evitando acusações diretas e focando nos sentimentos: “eu me senti assim”, “quando descobri, pensei isso…”.
Em seguida, o parceiro que traiu deve ouvir com atenção, sem resistência automática, compreendendo que o objetivo não é defender-se, mas acolher a dor do outro. É fundamental que se mostre aberto a responder perguntas e a admitir falhas, pois essa transparência contribui para restaurar a confiança.
Segundo Roberson Dariel: “a conversa exige que o traidor aceite a culpa sem fugir dela, é nessa disposição que a relação pode começar a retomar um rumo diferente.” Em muitos casos, essa abertura demonstra o comprometimento real com a mudança.
Por fim, cabe lembrar que o apoio profissional e especializado pode facilitar esse processo de reconstrução. Atendimentos voltados para orientação espiritual e equilíbrio emocional, em um ambiente que respeita o ritmo de cada pessoa, são fundamentais para quem deseja recomeçar com consciência e saúde emocional.
Por Gabriel Assunção Gomes da Silva
Artigo de opinião



