Como a Inteligência Artificial Está Transformando o Mercado de Trabalho e a Qualificação Profissional
A automação com IA redefine funções, exige novas habilidades e impõe desafios éticos e educacionais para o futuro do trabalho
A expansão da inteligência artificial (IA) está transformando de maneira profunda o mercado de trabalho em todo o mundo. Um estudo global da consultoria McKinsey, publicado em 2025, estima que até 30% das horas atualmente trabalhadas poderão ser automatizadas até o fim da década. O avanço, segundo o relatório, exigirá transições ocupacionais em larga escala, com milhões de profissionais migrando para novas funções, especialmente nas áreas de análise de dados, governança de IA e cibersegurança.
O Fórum Econômico Mundial também aponta uma reconfiguração das habilidades profissionais. De acordo com o relatório Future of Jobs, 44% das competências demandadas pelas empresas devem mudar até 2027. Entre as mais valorizadas estão pensamento crítico, criatividade, alfabetização digital e capacidade de trabalhar em conjunto com sistemas inteligentes. Funções rotineiras e administrativas, por outro lado, tendem a ser substituídas por processos automatizados.
A chegada da chamada Agentic AI, sistemas capazes de aprender e agir de forma autônoma, amplia o desafio das organizações e dos trabalhadores. Estamos diante de agentes de IA que não apenas respondem, mas tomam decisões. Isso muda a natureza do trabalho humano, que passa a ser mais estratégico, voltado à supervisão, à curadoria e à ética das máquinas.
Projeções da consultoria Gartner indicam que mais de 20% das empresas globais devem adotar algum tipo de IA autônoma até 2026, um avanço considerável frente aos 4% que já utilizam a tecnologia. No Brasil, bancos digitais, startups de logística e plataformas de e-commerce estão entre os setores que já testam agentes inteligentes capazes de operar sem supervisão humana direta. Essa adoção, no entanto, levanta dilemas éticos e regulatórios ainda em debate.
Organismos internacionais como a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a União Europeia recomendam que o uso de IA siga princípios de transparência, supervisão humana e aplicabilidade dos algoritmos, especialmente em decisões que afetam o acesso a crédito, contratações e serviços públicos. A transparência deve ser o princípio norteador. A inovação é positiva, mas precisa ser acompanhada de responsabilidade. Se uma IA define quem recebe crédito ou é contratado, é essencial compreender os critérios aplicados, para evitar que preconceitos humanos sejam replicados de forma automatizada.
Enquanto a automação reduz funções operacionais, novas oportunidades surgem em áreas relacionadas à governança tecnológica, desenvolvimento de modelos de aprendizado e segurança digital. Dados recentes do LinkedIn indicam crescimento expressivo da demanda por profissionais com habilidades em IA e aprendizado de máquina, reflexo da corrida das empresas para integrar a tecnologia aos seus processos.
A educação corporativa será determinante para o equilíbrio dessa transição. Empresas precisam investir não só em tecnologia, mas em capacitação contínua. A IA deve complementar o trabalho humano, não substituí-lo. O capital intelectual será o diferencial competitivo das próximas décadas.
O desafio, portanto, é equilibrar produtividade e inclusão. Bem aplicada, a inteligência artificial tem potencial para ampliar o acesso a oportunidades, otimizar recursos e liberar pessoas para atividades criativas e estratégicas. Sem planejamento e qualificação, porém, pode acentuar desigualdades e excluir profissionais despreparados para a nova era do trabalho.
Por Luis Molla Veloso
Especialista em Embedded Finance, atua na integração de serviços financeiros diretamente em jornadas digitais, conectando tecnologia, produto e estratégia; com sólida atuação no desenvolvimento de plataformas e APIs financeiras, foco em escalabilidade, conformidade regulatória e experiência fluida.
Artigo de opinião



