Empreendedorismo Feminino no Brasil: Avanços e Desafios para a Igualdade de Oportunidades
Mulheres lideram milhões de negócios, mas ainda enfrentam barreiras estruturais que limitam seu crescimento e acesso a recursos essenciais
No dia 19 de novembro é celebrado o Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino, data instituída pela ONU em 2014 para reconhecer o papel das mulheres na economia e incentivar políticas de igualdade de oportunidades. No Brasil, segundo levantamento do Sebrae e do Instituto Rede Mulher Empreendedora (IRME), as mulheres já estão à frente de cerca de 10,3 milhões de negócios, o que representa mais de um terço do total de empreendimentos do país.
Apesar do avanço, as mulheres ainda enfrentam desafios significativos para consolidar e expandir seus negócios. De acordo com o relatório mais recente do Global Entrepreneurship Monitor (GEM) Brasil, há cinco homens empreendendo para cada três mulheres, evidenciando uma diferença estrutural que ainda persiste no cenário nacional.
Para Carla Martins, vice-presidente do SERAC, hub de soluções corporativas com presença em 20 estados, o crescimento do empreendedorismo feminino é reflexo da busca por autonomia financeira, mas também da ausência de oportunidades iguais no mercado de trabalho. “As mulheres têm uma visão de gestão centrada em pessoas e propósito, mas continuam encontrando barreiras como a dificuldade de acesso a crédito, a informalidade e o acúmulo de funções familiares, que limitam seu potencial de crescimento”, afirma.
Avanços e desigualdades
Dados do GEM 2023 mostram que o Brasil ocupa a quinta posição entre as economias onde as mulheres têm maior acesso relativo a recursos para empreender, com nota 6,3 em 10. No entanto, o suporte social às empreendedoras ainda é considerado baixo, com pontuação de 2,4 em um ranking de 49 países.
O Sebrae aponta que empresas lideradas por mulheres têm faturamento médio cerca de 60% inferior ao das comandadas por homens. A diferença é explicada, em grande parte, pela falta de acesso a capital e pelo número maior de negócios informais. O mesmo levantamento indica que apenas 46% das empreendedoras formalizam suas empresas, o que restringe o acesso a crédito e a programas de fomento.
A professora Carla Martins explica que, embora o ambiente digital tenha aberto novas oportunidades, o cenário ainda é desigual. “O avanço das plataformas e das redes sociais permitiu que muitas mulheres transformassem talentos em negócios, mas a profissionalização ainda é um desafio. É preciso ensinar gestão financeira, planejamento e posicionamento de mercado”, defende.
Educação e redes de apoio
A educação financeira é apontada como um dos pilares para o fortalecimento do empreendedorismo feminino. Segundo o Data Sebrae 2024, apenas 35% das empresárias controlam o fluxo de caixa de forma estruturada e 41% ainda misturam finanças pessoais e empresariais, um erro que pode comprometer a sustentabilidade do negócio.
Outro ponto essencial é o networking. Pesquisa do LinkedIn Economic Graph 2024 revelou que mulheres com redes profissionais ativas têm 2,5 vezes mais chances de expandir seus negócios. “Quando as mulheres empreendem juntas, criam um ecossistema de apoio e aprendizado mútuo que acelera o crescimento. O futuro dos negócios passa pela colaboração, não pela competição”, reforça Carla Martins.
Caminhos para o fortalecimento
Especialistas apontam três medidas fundamentais para ampliar o protagonismo feminino no empreendedorismo brasileiro:
– Formalização: Incentivar o registro e a legalização dos negócios, ampliando o acesso a crédito e a mercados mais competitivos.
– Financiamento: Criar mecanismos de crédito e programas de mentoria específicos para empreendedoras, reduzindo as desigualdades de gênero.
– Capacitação e rede de apoio: Estimular o desenvolvimento em gestão, inovação e tecnologia, e fortalecer comunidades de empreendedoras.
“O empreendedorismo feminino é uma força transformadora da economia. Cada mulher que abre um negócio contribui para movimentar cadeias produtivas, gerar empregos e inspirar outras. O desafio agora é garantir que elas tenham condições iguais para prosperar”, conclui Carla Martins.
Por Carolina Lara
Artigo de opinião



