Crise Climática e Saúde: Um Chamado Urgente na COP 30
A Associação Médica Brasileira destaca a interdependência entre o meio ambiente e a saúde humana, reforçando a necessidade de ações imediatas e integradas na conferência global.
Para o presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), Dr. César Eduardo Fernandes, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), realizada em Belém do Pará, representa uma oportunidade histórica de reafirmar que não há saúde humana possível em um planeta doente.
Pela primeira vez, o Brasil sedia o encontro da ONU em um território que simboliza, ao mesmo tempo, a riqueza e a vulnerabilidade ambiental do planeta — a Amazônia. Os médicos têm testemunhado nos consultórios e hospitais os efeitos diretos das mudanças climáticas. As ondas de calor extremo aumentam as internações por desidratação, doenças cardiovasculares e respiratórias. As alterações no regime de chuvas e temperatura favorecem a proliferação de vetores de doenças como dengue, zika e malária. E a fumaça das queimadas agrava quadros pulmonares e de saúde mental.
Os desafios impostos pelas mudanças ambientais já são uma realidade cotidiana para o Sistema Único de Saúde (SUS) e para os profissionais da Medicina em todo o país. Não se trata de um problema futuro — é um problema do presente. A crise climática já é uma crise de saúde. Por isso, a COP 30 deve ser compreendida também como uma conferência sobre saúde pública.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que milhões de vidas podem ser salvas até 2050 se os países adotarem políticas de mitigação e adaptação climática guiadas por princípios de saúde. O Plano de Ação de Belém, que integra a pauta da conferência, reforça a necessidade de respostas com foco em equidade e justiça social, reconhecendo a vulnerabilidade de populações indígenas, ribeirinhas e periféricas diante da degradação ambiental.
Nesse contexto, a AMB defende que o tema “Saúde e Clima” seja incorporado à formação médica e à educação continuada. A Medicina, por essência, é ciência de prevenção e cuidado. Precisamos preparar nossos médicos para reconhecer e enfrentar os novos padrões de doenças relacionados ao ambiente, desenvolver protocolos de atendimento em desastres climáticos e atuar na prevenção de riscos ambientais.
Além da formação médica, o próprio setor da Saúde precisa adotar práticas sustentáveis, com gestão eficiente de energia, água e resíduos. Hospitais e unidades de saúde são grandes consumidores de recursos. Reduzir emissões, implantar práticas de baixo carbono e promover resiliência institucional é um compromisso ético de quem trabalha pela vida.
Com a COP 30, o Brasil tem a oportunidade de se posicionar como líder global na integração entre agenda climática e agenda da saúde, aproveitando a força de sua biodiversidade e de seu sistema público de saúde. O planeta também precisa de cuidado médico. Cuidar do clima é cuidar das pessoas. Que a COP 30 marque o momento em que o mundo compreendeu, de forma definitiva, que saúde e meio ambiente são inseparáveis.
Por César Eduardo Fernandes
Presidente da Associação Médica Brasileira (AMB)
Artigo de opinião



