Do Jeitinho à Versatilidade: Como o Talento Brasileiro Conquista o Mercado Global

A atriz e autora Jéssica Dorneles apresenta uma reflexão profunda sobre a transformação do famoso “jeitinho brasileiro” em uma competência criativa valorizada no exterior. Em seu artigo “Do jeitinho à versatilidade: como a multicarreira no Brasil prepara artistas para o mercado americano”, publicado na revista Inter-Ação, Dorneles propõe um novo olhar sobre a trajetória dos artistas brasileiros, que se reinventam constantemente, multiplicam suas habilidades e transformam a escassez em potência criativa.

Baseando-se em teóricos como Pierre Bourdieu, Paulo Freire e Anthony Giddens, a autora analisa como a multicarreira — o ato de ser ator, produtor, roteirista, comunicador e gestor de si mesmo — vai além de uma resposta à falta de recursos. Trata-se de uma estratégia de sobrevivência e inovação cultural que molda profissionais versáteis e preparados para os desafios do mercado global.

“O ‘jeitinho brasileiro’ deixou de ser sinônimo de improviso e virou uma competência criativa que o mundo admira. É uma inteligência que nasce do cotidiano, da necessidade de fazer muito com pouco — e isso forma artistas preparados para qualquer mercado”, destaca Dorneles.

A pesquisa evidencia que essa adaptabilidade, construída fora dos circuitos formais e marcada pela coletividade, é o diferencial que permite aos artistas brasileiros se destacarem em mercados exigentes como o norte-americano. Exemplos como Rodrigo Santoro, Wagner Moura e Alice Braga ilustram carreiras híbridas que transformaram adversidades em vantagens competitivas.

Segundo a autora, a formação artística no Brasil é, por essência, plural e inventiva, moldando profissionais altamente valorizados internacionalmente. “Enquanto lá fora essa versatilidade é chamada de soft skill, aqui ela é parte da nossa identidade cultural. É o nosso talento de criar soluções criativas com alma, afeto e propósito”, completa Dorneles.

Mais do que uma pesquisa acadêmica, o trabalho é um manifesto sobre a potência da arte brasileira e um convite para repensar políticas culturais que ainda desvalorizam formações híbridas e não formais. Essa nova perspectiva valoriza a multicarreira como um caminho legítimo e necessário para o sucesso artístico e profissional no cenário global.