Envelhecimento no Brasil: um desafio demográfico, simbólico, cultural e de gênero
O envelhecimento da população brasileira exige uma reflexão profunda sobre preconceitos, desigualdades e o papel das mulheres na sociedade
O tema da redação do Enem deste domingo (09) — “Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira” — abriu espaço para que milhões de estudantes discutissem do etarismo à economia. Para a pesquisadora e docente da ESPM, Gisela Castro, especialista em longevidade, o debate é urgente e central para o Brasil do agora. O país vai envelhecer muito rápido e o processo é profundamente desigual.
Segundo Castro, o envelhecimento no século 21 é social e cultural, não apenas biológico. E tem um recorte-chave muitas vezes omitido: a velhice é predominantemente feminina. “Há muito mais mulheres vivas nas idades avançadas do que homens. Mesmo assim seguimos como ‘minoria social’. O Brasil trata o envelhecer feminino como falha moral”, diz.
Ela explica que vivemos em uma sociedade jovencêntrica, em que o imperativo de parecer jovem produz idadismo estrutural — o último preconceito socialmente aceito. E esse etarismo recai de forma mais forte sobre as mulheres: a indústria anti-idade monetiza essa ansiedade, conectando gênero + consumo + desigualdade.
Apesar de movimentos culturais recentes ampliarem a visibilidade das 50+, isso ainda é pontual. “São as mulheres que estão puxando essa luta, como em outras ondas feministas. Por isso o tema do Enem é tão importante”, destaca.
Impacto macro: se o Brasil não enfrentar o idadismo, especialmente o direcionado às mulheres, não há como garantir cidadania, participação, acessibilidade e sustentabilidade social diante do novo regime demográfico de população majoritariamente idosa que o país viverá a partir de 2042.
Por Gisela Castro
especialista em longevidade, professora do Mestrado em Comunicação e Práticas de Consumo da ESPM
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