Inundações repetidas no RS expõem falhas na resposta à crise climática, diz estudo conjunto MSF/Lancet
Publicação aponta padrão de eventos extremos recorrentes e defende integração da saúde mental nas ações de emergência
O:
As grandes inundações que atingiram o Rio Grande do Sul em 2023 e 2024 são apontadas como exemplo de um padrão crescente associado à crise climática na publicação conjunta de Médicos Sem Fronteiras (MSF) e a revista científica The Lancet. O trabalho, lançado recentemente, destaca que eventos extremos podem atingir repetidamente a mesma área, deixando comunidades com cada vez menos tempo para se preparar e se recuperar.
O documento traz como caso de estudo as respostas de MSF ao Estado: a organização atuou inicialmente em setembro de 2023, após chuvas torrenciais no vale do Taquari que deixaram mais de 50 mortos e afetaram ao menos 400 mil pessoas. Novas inundações, mais graves, ocorreram a partir do final de abril de 2024, quando o número de mortos chegou a 183, com mais de 730 mil desabrigados e 2 milhões de pessoas afetadas. Em ambas as ocasiões, MSF mobilizou ações de emergência, atendimento em áreas remotas e assistência a comunidades indígenas e agricultores isolados.
Um destaque do projeto foi a ênfase na saúde mental. O trabalho de MSF priorizou tanto o atendimento direto quanto a capacitação de profissionais locais para primeiros socorros psicológicos. “As comunidades que mal tinham conseguido recomeçar a se reestruturar tiveram que reviver o mesmo pesadelo”, afirma Anderson Beltrame, psicólogo e coautor da análise. Ele explica também que “o processo de recuperação não diz respeito apenas à recuperação da infraestrutura, mas é também sobre a reconstrução de vidas. Leva um tempo até que as pessoas vivenciem seus lutos, reconectem-se com suas comunidades e encontrem forças para seguir adiante. A cura é tanto um processo social quanto emocional, e não pode ser feita às pressas.”
Para alcançar populações vulnerabilizadas, foram contratados mediadores interculturais e produzidos materiais educativos sobre saúde mental em outros idiomas, com foco em migrantes, em especial haitianos presentes no estado. Entre as recomendações do estudo está a necessidade de conceber a assistência de saúde mental de forma integrada às respostas a desastres socioambientais, em vez de tratá-la como ação acessória.
Além do caso gaúcho, a publicação aborda outros impactos da emergência climática sobre o trabalho humanitário, como o aumento de episódios de calor extremo, a importância do envolvimento de comunidades tradicionais e indígenas e a redução do uso de materiais plásticos em atividades médicas. A íntegra do trabalho, em inglês, pode ser acessada no link: MSF – Policy brief template.
Post produzido com dados da assessoria de imprensa.
Texto gerado a partir de informações da assessoria com ajuda da estagiárIA



