Superando a Vergonha: A Importância do Diagnóstico Precoce do Câncer de Próstata
Como o preconceito cultural ainda impede homens de cuidarem da própria saúde e o que pode ser feito para mudar essa realidade
Vergonha, dúvida e inconformismo ainda são barreiras para o diagnóstico precoce de câncer de próstata entre os homens. Para muitos, a doença representa a perda da masculinidade, um tabu que persiste e atrasa o cuidado. Nesse contexto, a campanha Novembro Azul ganha novo significado: estimular o diálogo, derrubar mitos e mostrar que prevenção é sinônimo de força, não de fraqueza.
O câncer de próstata é o tipo de câncer mais incidente entre os homens em Campinas, representando quase 30% de todos os diagnósticos de neoplasias masculinas. De acordo com o boletim epidemiológico municipal 2023-2024, o município registra, em média, 540 novos casos e 81 mortes por ano. Embora a taxa de mortalidade (12,4 por 100 mil) esteja estável, o número de casos reforça a necessidade de ampliar a prevenção e o acesso aos exames para diagnóstico precoce.
No Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima 71.730 novos casos e 15.841 mortes anuais entre 2023 e 2025. Mais de 75% dos diagnósticos ocorrem após os 65 anos, e a incidência é 50% maior em homens negros. Apesar dos desafios, a boa notícia é que oito em cada dez pacientes podem se curar quando a doença é identificada no início.
O maior desafio ainda é cultural. Muitos homens evitam o exame de rastreio por preconceito, o que faz com que o diagnóstico ocorra tardiamente, quando as chances de cura diminuem. A vergonha não pode ser maior do que o cuidado com a saúde. O tratamento evoluiu muito e hoje é mais seguro e preciso. A cirurgia robótica e outras abordagens minimamente invasivas permitem uma recuperação rápida e preservam funções importantes, inclusive a sexual. Mostrar isso ao público masculino é fundamental para aproximá-lo da prevenção.
A promoção de hábitos saudáveis também é uma frente essencial no combate ao câncer. Estudos apresentados no maior congresso de oncologia do mundo, ASCO 2025 (Sociedade Americana de Oncologia Clínica), reforçam o papel do exercício físico regular na prevenção e no controle de diversos tipos de câncer, como colorretal, mama e próstata, evidenciando seus benefícios para o sistema imunológico, o equilíbrio hormonal e a resposta inflamatória do organismo.
A oncologia precisa ultrapassar as paredes do consultório. O compromisso é com a informação e com a transformação de hábitos. Por isso, é fundamental levar o tema para as ruas, eventos e espaços públicos, aproximando o assunto do dia a dia das pessoas.
Programas que estimulam a atividade física como fator de prevenção do câncer e recuperação são essenciais. Na campanha do Novembro Azul, é importante renovar o compromisso de alertar a população masculina sobre a importância do autocuidado, do diagnóstico precoce e do enfrentamento sem medo ou preconceito do câncer de próstata, levando informação de forma leve, lúdica e assertiva. Ações robustas voltadas para a conscientização do tema nas cidades, sempre em espaços públicos, são um verdadeiro gol contra o preconceito.
Por André Sasse
oncologista clínico, CEO do Grupo SOnHe
Artigo de opinião



