O Ciclo Invisível das Relações Abusivas: Reflexões a Partir do Caso Dado Dolabella

Entender a dinâmica psicológica por trás da violência doméstica é essencial para romper padrões e promover a cura

Mais um caso grave de agressão explícita contra uma mulher. Isso não é caso de fofoca. É coisa séria, muito séria. Novamente, o ator Dado Dolabella está envolvido, como sendo o agressor de sua então namorada.

A vítima sofreu violência doméstica, que é um crime e inaceitável. Mas um fato nesse história recente chama a atenção: a vítima negou os ataques e, em seguida, foi desmentida, através de vídeos e fotos, por uma amiga que tinha ciência de toda a verdade.

E após ser desmascarada pela amiga, a vítima do ator ainda bloqueou a denunciante. Do ponto de vista psicológico, cabe refletir sobre o que faz com que mulheres se submetam a defender, inocentar o agressor e, muitas vezes, permanecer na relação abusiva?

Segundo a psicanalista Andrea Ladislau, infelizmente, esses casos estão cada vez mais frequentes. O rosto deformado, o corpo recheado de hematomas intensos, é o reflexo do trauma gerado pela violência doméstica ou psicológica que compõe o enredo vivido por vítimas de agressão.

“A verdade é que com o tempo, o encantamento começa a dar lugar a medos, mágoas, tristezas e rejeições. A manipulação constante das emoções da vítima proporciona ao abusador, através de jogos de sedução, vitimismo e inversão de fatos, diminuir ainda mais a autoestima da vítima, tornando-a cada vez mais submissa, dependente e confusa de seus sentimentos. Ao ponto de acreditar que ela é culpada ou a responsável pelo comportamento tóxico do outro”, explica.

O apego, o medo de mudanças, a vergonha em assumir que houve agressão e a esperança de cura, ou pior, a esperança de que é possível mudar o outro, fazem com que muitas vítimas mantenham-se ligadas ao que causa dor, explica Andrea.

“E isso acontece por conta da dependência emocional. Os relacionamentos marcados por abusos intercalados de afeto e violência costumam ‘pregar peças’ no cérebro, fazendo com que ele associe carinho, mesmo que seja o mínimo recebido, à esperança. Esperança de que tudo pode ser diferente, a qualquer momento”, explica Andrea.

Andrea complementa que esse processo é um tipo de vício, em que a vítima de violência, psicológica ou física, se apega aos momentos bons e se obriga a tolerar os momentos tóxicos e agressivos, sempre na espera de uma próxima demonstração de carinho e cuidado. O que gera uma confusão de sentimentos, já que o afeto e a dor se misturam.

“O maior risco nestes casos é viciar o cérebro a acreditar e aprender que o cuidado pode aparecer até em momentos de sofrimento. Essa conexão mental que é criada dificulta o rompimento e o que chamamos de necessidade de viver o luto do término”, diz.

E por que as recaídas acontecem? Para a especialista, quando o luto não é elaborado, a possibilidade de reconciliação é enorme. Ou seja, a vítima entra em uma dinâmica de repetição dos mesmos padrões mentais e comportamentais.

“Enfim, uma relação abusiva pode acontecer com qualquer um, porém o caso recente de violência doméstica envolvendo Dado e a atitude da vítima em desmentir os fatos demonstra que o apego, o medo de recomeçar e a esperança de cura certamente podem nos manter ligados ao que nos fere e aprisiona”, diz.

É preciso quebrar esse ciclo com muita coragem e uma rede de apoio forte e estabelecida para acolher, promover proteção e ajudar no resgate do amor próprio e da autoestima.

“A cura de uma relação tóxica, principalmente quando o abusador é um manipulador, dissimulado, pode ser difícil, mas não é impossível. Tornar-se refém de uma situação de abuso, seja física ou emocional, é uma das maiores causas que originam o estabelecimento de traumas emocionais profundos e, em alguns casos, até irreversíveis”, completa.

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Por Dra. Andréa Ladislau

Doutora em Psicanálise Contemporânea, Neuropsicóloga, Graduada em Letras – Português/Inglês, Pós-graduada em Psicopedagogia e Inclusão Digital, Administração de Empresas, Administração Hospitalar, Palestrante, Membro da Academia Fluminense de Letras

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