⚡ A promessa das baterias e a armadilha da reforma elétrica
O que está realmente por trás da corrida das “baterias nacionais” e como o cidadão pode se proteger da nova conta que vem aí
️ Enquanto o governo fala em modernização e sustentabilidade, o sistema elétrico brasileiro passa por uma transformação silenciosa — e nem todos vão sair ganhando.
A MP 1.300 e o leilão de baterias podem mudar tudo no setor elétrico brasileiro. Entenda quem lucra, o que muda para quem tem energia solar em casa e como se proteger das novas tarifas que vêm aí.
Quando gerar a própria energia vira ameaça ao sistema
Nos últimos anos, milhares de brasileiros instalaram painéis solares nos telhados com uma promessa: independência e economia na conta de luz.
Mas a Medida Provisória 1.300/2025 — aprovada recentemente — e o primeiro leilão nacional de baterias anunciado pelo Ministério de Minas e Energia reacenderam o alerta: o jogo pode estar mudando.
O ministro Alexandre Silveira chegou a defender a criação de uma taxa para quem injeta energia na rede, sob o argumento de que o sistema estaria “sobrecarregado” nos horários de pico solar.
A proposta não passou no Congresso — mas abriu caminho para algo maior: a redefinição de quem controla e lucra com a energia renovável.
Leia também: O que muda com a nova MP da energia | Como proteger seu investimento solar
⚙️ O que está por trás dos “leilões de baterias”
O governo pretende realizar, ainda em 2025, o primeiro leilão de armazenamento por baterias do país.
Na teoria, a medida é positiva: as baterias ajudariam a estabilizar a rede, guardando energia solar e eólica para liberar à noite — quando a demanda sobe e o sol se põe.
Mas, na prática, especialistas alertam:
“O risco é criar um novo monopólio verde — com grandes grupos controlando o armazenamento e empurrando custos para o consumidor”, diz um ex-diretor da ANEEL ouvido pela pv-magazine Brasil.
Esses leilões somam até 2 GW de capacidade contratada, um mercado bilionário que tende a beneficiar grandes players — enquanto o pequeno gerador doméstico segue às cegas sobre futuras cobranças ou restrições.
⚡ A virada de narrativa: de “herói sustentável” a “pesado para o sistema”
A geração distribuída (energia solar em residências e comércios) foi a principal força verde do Brasil na última década.
Agora, porém, começa a ser retratada como “onerosa” para o sistema, sob o argumento de que quem gera “usa a rede sem pagar a manutenção dela”.
A MP 1.300 permite que a ANEEL crie novas modalidades tarifárias para compensar esses “custos de rede” — o que pode significar, na prática, cobrança adicional para quem gera e injeta energia.
“Se a tarifa virar binômia, o cidadão que investiu vai pagar duas vezes: pelo investimento e pelo uso da rede que ele quase não usa”, alerta a Associação Brasileira de Energia Solar (ABSOLAR).
A verdadeira disputa: quem controla o armazenamento
Por trás da narrativa das “baterias do futuro”, há uma guerra econômica.
O armazenamento descentralizado — painéis + baterias residenciais — ameaça o modelo de negócio centralizado das concessionárias.
Ao criar leilões nacionais, o governo concentra o poder em grandes operadores, afastando a autonomia do consumidor.
“A retórica verde esconde uma tentativa de reestatizar o controle da geração distribuída”, comenta um pesquisador da UFRJ especializado em transição energética.
Como o cidadão pode se proteger
Antes que as novas tarifas cheguem, há passos simples que podem blindar quem já tem (ou quer ter) geração própria:
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Reveja seu contrato atual.
Confirme se seu sistema está enquadrado na Lei 14.300/2022, que garante direitos adquiridos até 2045 para quem instalou até janeiro de 2023. -
Invista em armazenamento local.
Pequenas baterias domésticas começam a baratear. Elas permitem usar sua própria energia à noite, sem depender da compensação na rede. -
Acompanhe audiências públicas da ANEEL.
As mudanças virão por resoluções técnicas — e não por manchetes. É lá que as tarifas se decidem. -
Organize-se coletivamente.
Associações como ABSOLAR e ABGD têm conseguido adiar medidas punitivas graças à pressão popular.
O impacto que ninguém quer comentar
Se as regras futuras desincentivarem a geração distribuída, o Brasil perde:
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Empregos em energia solar (mais de 300 mil em 2025).
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Redução de emissões — um ganho ambiental vital.
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Competitividade — já que empresas e famílias voltarão à dependência da energia de rede, mais cara e sujeita a apagões.
Enquanto isso, o custo da energia no país segue entre os dez mais altos do mundo, segundo dados da Global PetroData.
Conclusão: entre o futuro e o retrocesso
O cidadão que acreditou na energia limpa agora precisa redobrar atenção.
As “baterias do Brasil” podem representar o início de uma nova era — ou o fim da autonomia energética individual.
O verdadeiro desafio não é armazenar eletricidade, e sim garantir que o poder de gerar continue nas mãos de quem paga a conta.
Fontes consultadas
Nota editorial
Este conteúdo faz parte da editoria Sustentabilidade e Consumo Consciente do Afina Menina, produzido em parceria com a Descomplica Comunicação Inteligente, com objetivo de traduzir temas complexos de política energética em informação prática para o dia a dia do leitor.



